O Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein
Criador propôs reinvenção da linguagem, por meio da montagem, para transmitir valores revolucionários
Para um conteúdo revolucionário, uma forma revolucionaria. Sob este lema o diretor russo Sergei Eisenstein entrou definitivamente para a história do cinema em razão da expressão inovadora de sua obra e também pela reflexão sobre a produção de significados na linguagem cinematográfica, feita numa extensa lista de ensaios escritos.
O Encouraçado Potemkin (1925) é seu segundo trabalho. Mas desde sua estréia, com A greve, no ano anterior, o cineasta já propunha uma narrativa em total ruptura com as formas tradicionais, ainda marcadas pela linearidade dos fatos e pela teatralidade dos gestos e atuações.
Não é possível, contudo, compreender a importância da proposta estética de Eisenstein sem o contexto em que ela foi criada. A Rússia havia sido sacudida por uma revolução em 1917, e o estabelecimento gradual das reformas foi acompanhada por um grande número de experimentações no campo das expressões artísticas, com vanguardas ocupando terreno na pintura, no teatro, na literatura e na cinematografia.
No caso do cinema, Eisenstein enxerga a montagem, o modo como se associam duas imagens no cinema, um elemento substancial na construção de novos significados. Contra a linearidade, o artista russo escolheu o simbolismo, a alteração abrupta de direções de olhares e de ritmos, o choque de valores plásticos opostos, o conflito, naquilo que ele definiu como “montagem dialética”. Com isso, pretendia que o espectador compreendesse o conteúdo não apenas pelo que é narrado, mas também pelo modo como é narrado.
O resultado desse projeto encontra-se representado na cena mais clássica de O Encouraçado Potemkin, a do massacre da população na escadaria de Odessa. Alegre e receptivo à tripulação rebelada do navio, o povo ocupa uma escada quando a festa é interrompida pela polícia, que marcha atirando para pôr fim à manifestação. O modo como o diretor constrói essa cena revela todo o significado do filme, na oposição entre a ordem inflexível do poder e a desordem libertária das massas.
* Revista Bravo!, 2007,p. 28
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