Holocausto
Por Pedro Fernandes
O vocábulo holocausto só entrou para o léxico da língua portuguesa por volta do século XIV - conforme o Aurélio veio do grego holókauston, sacrifício em que a vítima era queimada inteira, pelo latim, holocaustu. Entretanto, seu sentido original permanece apenas como registro, porque depois do genocídio dos judeus empreendido pelo regime nazista de Adolf Hitler, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, tornou-se espécie de nome próprio para tal fato.
Mas, já em referência a massacres a palavra fora utilizada por Winston Churchill quando num discurso seu em que descrevia o assassinato de cerca de um milhão de armênios pelo governo turco. Noutro entretanto, a inédita escala de extermínio de judeus pelos nazistas, em que o número extrapola à casa de milhões de pessoas, exigiu um nome específico, um nome próprio - com iniciais maiúsculas, como sentido do caráter único de tamanha barbárie, afinal, se o número de judeus vai a casa dos milhões mais haverá de ir se incluirmos na lista do horror que qualquer tipo de sujeito de raça impura - que não a ariana - foi, perseguido, muitos torturados e mortos. Foram homossexuais, ciganos, deficientes etc.
A palavra holocausto com tradução em hebraico Shoah - catástrofe -, já em 1940 era usado para denominar o massacre de judeus. Alguns mesmo preferem Shoah a holocausto, dada a conotação religiosa original da palavra. Se formos a Bíblia encontraremos a palavra sendo empregada, por exemplo, com o sentido que falei no início deste texto, de sacrifício. Já os hebreus faziam rituais de queima de animais para expiação dos pecados.
O que toda essa discussão em torno do vocábulo holocausto vem nos trazer é sobre o recente caso, quer dizer, não tão recente porque já se vão vinte anos aproximadamente, que o bispo britânico Richard Williamson foi excomungado pela igreja no então papado de João Paulo II, o papa pop. Mas, o caso torna-se, no entanto, recente, porque não acabou aí nessa excomunhão. Foi pelas mãos de Bento XVI, um papa não tão pop assim, que decidiu desfazer o que o outro havia deixado feito e crente de que não mais seria mexido, reabilitar Williamson.
A notícia de tamanha burrada, para não dizer idiotice papal, caiu feito uma bomba na já tão conturbada relação entre cristãos e judeus. Deixa, além tudo, as páginas da própria história numa saia justa, porque o tal Williamson, talvez um louco varrido, foi excomungado por João Paulo II, o papa pop, justamente porque havia negado numa de suas luas que o Holocausto não existiu.
Bem, esse gesto de Ratzinger parece ser a prova definitiva de que o Espírito Santo não anda tão bem de escolhas ao eleger um papa cujos interesses tão retrógrados vão abalando a tão fraca relação que a igreja tem mantido com seus fiéis. O gesto de reabilitar Williamson, que além das luas de louco é membro de uma seita ultraconservadora da igreja, é a tradução clara do comportamento de um papa também ultraconservador, que ainda não acordou para o cargo para o qual foi eleito. E, não apenas isso, ao tentar se retratar diante de tal burrada, Sua Santidade, foi ainda burro o suficiente para dizer que, esteve em Auschwitz e sabe perfeitamente o que foi o genocídio empreendido na época. Nem haveria necessidade de ter lá estado. Bastava olhar para as páginas da própria biografia e ver o que lá escreveu acerca da morte de seu irmão que tinha Síndrome de Down e foi levado pelo o exército do Terceiro Reich e nunca mais voltou. Eu nunca lá estive e sequer perdi parentes assim tão próximos, entretanto, sei perfeitamente da empreitada louca que o regime do Nazismo fez durante a Segunda Guerra. Não se é necessário, além de tudo, ser um Eric Robisbown para entender o que foi o Holocausto. Agora, eu pensei que durante a penca de anos de seminário, além de estudar a Bíblia também se estudasse um pouquinho de História, porque, venhamos e convenhamos, são dois atos, o de Williamson e o de Bento XVI, covardes, porque ao negar o Holocausto, fato específico da História, é uma tentativa criminosa, semelhante a de um criminoso qualquer que tenta apagar as pistas do crime que cometeu. Esperemos agora a retratação. Que é o mais simples. Basta passar óleo de peroba na cara e falar a imprensa.
* Texto publicado no Jornal Correio da Tarde, em 16 de fevereiro de 2009, p.2.
Comentários
Valeu a visita.
Um abraço forte.
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