Crise, crises

Por Pedro Fernandes


Saiu o presidente Bush, talvez a pior das espécies que já ocupou a Casa Branca. Fica depois de sua saída um rastro de coisas por consertar. Espera-se agora pela change que ocupou sua cadeira. Uma dessas coisas por consertar que talvez mais tenha chamado atenção, porque depois de atingir as grandes economias agora começa a dar sinais de incômodos por cá, pelas economias emergentes, certamente é a crise econômica que se instalou nos Estados Unidos. Já se mostram em números o que a tal crise começa a aprontar; crise tida pelos especialistas do mundo econômico como a maior desde o crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929.

Bem, seria a tal crise fruto do descuido do ex-presidente estadunidense que olhou com olho gordo para além das suas fronteiras, a título de enriquecer seu império e esqueceu-se de casa, onde um monstro se formava silenciosamente? Isso é uma suposição com um bom fundo de verdade. Não podemos, pois, descartá-la de um todo. Ainda mais, sabendo que o pivô dessa crise dá-se a partir da crise imobiliária nos Estados Unidos aliada aos desastres de alguns bancos que tinha suas fontes econômicas a custo de lavagens de dinheiro. E aí, onde estava o Estado que não se preocupou em ver de onde corriam os rios de fortuna que se formavam em torno de trabalhadores fantasmas? Críticas à parte, a verdade é que esta crise econômica pode ser interpretada por através de três linhas de pensamento. Enumero-as:

I. Pode está por fim as grandes fortunas. O próprio sistema capitalista dá sinais de que não é capaz de suportar altas fortunas nas mãos de poucos, enquanto outros morrem a trabalhar e não conseguem erguer em toda vida sequer um milésimo da parte do que aqueles conseguem num clique. Tem isso no ar certa raiz dum socialismo. E isso apontaria para a formação de um outro sistema capitalista? Um sistema a meio termo, meio capitalismo, meio socialismo? Esperemos.

II. Junto com a crise o que se assiste são suspiros de um capitalismo em falência. Não quero aqui dizer que está o capitalismo no fim. Isso ainda não é visível, tendo em vista que ao longo de tantos anos tem este sistema econômico se reciclado e se apresentado em novas e imprevisíveis facetas, como a do neoliberalismo. Como disse acima, talvez estejamos mais para assistir a mais uma fase camaleônica sua, que seu fim. Entretanto, claro está que este sistema tal como tem funcionado ao longo desses anos não é, sem dúvidas, o ideal e tão sonhado responsável por um "crescimento sustentável" - grupo de palavras predileto do presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva. Do contrário. O sistema capitalista tem sua base no consumismo desenfreado. Mas desenfreado mesmo. Sem limites. Prova disso é que uma economia como a dos Estados Unidos, presa a um ciclo de crescimento de 13% ao ano ainda briga por números mais expressivos. Seria, pois, uma contradição e tanta dizer que isto é crescimento sustentável, tendo em vista que para superar índices cada vez mais alarmantes de crescimento um maior consumismo tenha de haver. Essa crise, portanto, reflete isso: um esgotamento do próprio sistema econômico. Talvez todas as medidas socorristas, os chamados pacotes econômicos, não surtirão o efeito desejado. Talvez tenhamos que pensar numa nova forma de controle da economia. Afinal, nada é estanque e todos os sistemas são falíveis. Disso, novamente esperemos.

III. Por último, o que essa crise deixa entrever é que se não há espaço para grandes fortunas, também não serão os detentores delas os grandes prejudicados. A crise só tem a contribuir com o aumento do fosso existente entre os das grandes fortunas e os trabalhadores comuns. É em tudo um atentado à dignidade humana se entendo que há para qualquer pessoa a necessidade básica de um emprego a título de surtir as necessidades humanas, como a própria de se alimentar. Quem poderia me convencer do contrário? Entretanto, esperemos.

Isso é o que apenas podemos fazer. Apenas o que podemos é esperar. Esperar e ver como que, principalmente o Estado brasileiro deverá agir diante dos problemas que nos começam a afligir. As reclamações já são muitas, as mobilizações, entretanto, poucas.


* Texto publicado no Jornal Correio da Tarde de 09 de fevereiro de 2009, p. 02.

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