Cinco livros e cinco filmes para conhecer Charles Bukowski
Por Pedro Fernandes
Bukowski
divide a crítica em dois grandes grupos: o dos que admiram sua ousadia e
capacidade de fazer da experiência de vida, com linguagem simples e despojada,
uma literatura e o dos que assinalam que somente isso ou meter-se em experiências
depravadas é insuficiente para se produzir algo que possa ser chamado de
literatura.
Embates à
parte, o fato é que o escritor cada vez mais tem ganhado espaço entre os
leitores dentro e fora de seu país; e isso é nada mais que produto de uma
motivação convincente de que a literatura não está restrita a um uso delicado ou
rebuscado da linguagem. Ou que a literatura, para ser convincente, deve ter por
“vocação” não apenas à construção de situações imaginativas, mas a transposição
da matéria vivida.
Um ou outro
lado deve antes de assumir uma posição negativa em relação ao autor e sua obra
conhecer sobre. Por isso, esta postagem. Ela copia uma sequência com a sinopse
sobre cinco livros e cinco filmes indispensáveis para conhecer o universo e
figura de Charles Bukowski.
Livros
1. Cartas na rua (L&PM
Editores, tradução de Pedro Gonzaga)
Este foi o
primeiro romance do escritor estadunidense. A narrativa é marcada pela personagem
Henry Chinaski, um alter-ego do próprio Bukowski que o acompanharia em boa
parte de sua produção literária em prosa, quem dedicou-se mais de uma década
nos serviços dos correios em Los Angeles. Muito das experiências vividas nesse
extenso período estão aí relatadas como se o estadunidense fizesse contar suas
memórias em tom hilário e melancólico. Publicado em 1971, o livro é
um marco na obra de Bukowski e permite vislumbrar uma de suas grandes virtudes:
a de um cronista do homem comum esmagado pela monotonia e pelo desespero do
mundo do trabalho.
2. Ereções, ejaculações e exibicionismos (L&PM
Editores, tradução de Milton Persson)
O título foi
publicado no Brasil como uma coletânea dividida em dois volumes – Crônica de um amor Louco e Fabulário geral do delírio cotidiano.
Nele, o leitor encontrará mais de meia centena de contos que foram publicados
por Bukowski na imprensa alternativa. O primeiro volume é uma jornada pelo
universo infernal e onírico moldado pelo velho safado, ou um conjunto de
fotogramas das ruas desertas da madrugada de Los Angeles, a cidade que Buk
amava acima de tudo. O título veio do filme que o italiano Marco Ferreri fez
baseado em textos da obra. Agora, em Fabulário
os textos têm como característica a forte marca autobiográfica: suas
desventuras, traumas, amores fracassados e prisões inesperadas. É o encontro
com figuras retratadas de forma triste, divertida, escatológica e universal, em
toda sua vulgaridade e realidade.
3. O amor é um cão dos diabos (L&PM
Editores, tradução de Pedro Gonzaga)
No Brasil, a
obra de Charles Bukowski tem ganhado mais presença pela prosa, mas além dela, o
escritor estadunidense também praticou a poesia, gênero, aliás, pelo qual é
mais reconhecido fora daqui. Este volume é o primeiro publicado no Brasil e reúne
poemas compostos entre 1974 e 1977. As variações temáticas de sua poética seguem
o mesmo ritmo da sua prosa: o tratamento autobiográfico, o humor cáustico e a
crítica ao outro lado da sociedade estadunidense.
4. Notas de
um velho safado (L&PM Editores, tradução de Albino Poli Jr.)
Alguns
definem este como o melhor livro para se começar a ler a obra de Bukowski. São contos
de cunho mais crítico à vida nos Estados Unidos. Tal como descreve sua sinopse,
aqui, o leitor encontra o país com a cara de 50 anos, corpo de 18 e desfila de
calcinha rosa claro e salto alto na madrugada de Los Angeles; ou é um sapatão
furioso com uma garra metálica no lugar da mão esquerda que não quer saber de
transar com o Velho Safado; ou uma deusa milionária com a qual ele se casa e da
qual amargamente se separa. O livro sobre uma vida violenta e depravada,
horrível e santa. Uma visita ao lado mais hipócrita da sociedade estadunidense.
5. Misto quente (L&PM Editores, tradução
de Pedro Gonzaga)
Descrito como
um romance de formação com fortes toques autobiográficos. Novamente estamos
diante de Henry Chinaski, um pobre de origem alemã, com a cara comida pelas
espinhas, um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva e
ignorante, sem namorada e apenas entregue à perspectiva de servir de
mão-de-obra barata num mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e
problemáticas. Este é o quarto romance dos seis que o autor escreveu, mas é uma
obra que ilumina toda a literatura de Bukowski.
Filmes
1. Crônica de um amor louco, de Marco
Ferreri (1981)
Esta é a primeira adaptação de Bukowski para o cinema e veio da contística do
velho Buk. E foi, por ironia, feita não no país onde viveu, mas na Itália. No
filme, Ben Gazzara interpreta um poeta alcoólatra e rebelde, alter-ego do
escritor, que vaga pelo submundo de Los Angeles até conhecer uma prostituta
linda e autodestrutiva (a atriz Ornella Muti), com quem inicia um romance que
se transforma em tragédia.
2. The killers, de Patrick Roth (1984)
A produção de Ferreri abriu o apetite dos estadunidenses; Roth foi quem começou
a ver na obra de Bukowski uma possibilidade de romper com os padrões costurados
pelo cinema de seu país. Apesar do filme não ter alcançado o sucesso devido, o
diretor explorou uma particularidade: a participação do próprio escritor como a
personagem O Autor. O roteiro é baseado no texto de mesmo título de Bukowski e narra
o envolvimento de um pacato agente de seguros (interpretado pelo ator Jack
Keroe) com um criminoso (Raymond Mayo) em Bervely Hills.
3. Crazy love, de Domique
Deruddere (1987)
O título foi premiada no Festival de San Sebastian; o seu diretor adaptou de
vários contos de Bukowski, como “A sereia que copulava em Veneza” e “Califórnia”.
A trama acompanha três noites importantes na vida de um homem, uma delas quando
ele tinha 12 anos, a segunda no dia de sua formatura e a última já na terceira
idade, amargurado.
4. Barfly – condenados pelo vício,
de Barbet Schroeder (1987)
O segundo filme em ano cujo ponto de partida é obra de Bukowski. O longa foi
bastante elogiado longa e tem como protagonistas Mickey Rourke e Faye Dunnaway,
esta indicada ao Globo de Ouro pelo papel desenvolvido nesta produção. Trata-se
de uma história semiautobiográfica que o próprio Bukowski escreveu a pedido de
Schroeder. O texto foi publicado antes do início do filme com ilustrações do
autor.
5. Factótum – sem destino, de Bent
Hamer (2005)
O título é o de um romance de Bukowski. No filme, Henry Chinaski (Matt Dillon)
vive um sujeito que tem quase o hobby de
viver sendo empregado e demitido continuamente de uma série de subempregos, que
encontra para bancar sua vida de bebedeiras, apostas em cavalos, mulheres e,
principalmente, de escrever livros que nunca serão publicados, ou, um retrato
quase autobiográfico do próprio Buk.
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