A vida e a obra de Aluísio Azevedo
É muito difícil escrever romances no
Brasil!... O pobre escritor tem de lutar com dois terríveis elementos – o
público e o crítico. O público, que sustenta a obra, e o crítico, que a julga e
às vezes a inutiliza; o público, que compra um livro para aprender; e o
crítico, que exige que o livro sustente as suas idéias e pense justamente como
ele – crítico.
(Aluísio Azevedo, Filomena Borges)
Os arquivos acerca do escritor dão conta de um
sujeito que desde menino revelou inclinação às Artes. Ainda nos bancos da
escola primária encontramos Aluísio Azevedo completamente fascinado pelo
desenho, o que levou a família, presa ainda por uma psicologia do dom,
matriculá-lo num curso de artes plásticas. Adolescente já desenhava bem. Chegou
mesmo a pintar alguns quadros. E quando animado pelo sucesso que seu irmão
Arthur Azevedo obtinha na Corte, partiu para lá. Foi confiante no êxito que ele
obteria que fez a viagem. Em pouco tempo, impôs às redações de jornais como O
Mequetrefe, Fígaro e Zig-zag fazendo charges bastante apreciadas
pelo público. Essa sua incipiente carreira de caricaturista viria ser
interrompida porque cá em São Luís falecia e seu pai e, logo, viu-se
obrigado a voltar ao Maranhão.
Em território maranhense começou a trabalhar
na imprensa escrevendo crônicas e comentários. O menino Azevedo trocava as
cores das tintas e o pincel pela cor preta e o lápis. Nascia assim o seu
primeiro romance, que começara a compor ainda no Rio, mas só agora tem tempo de
dar por acabado. Chama-se Uma lágrima de mulher e foi publicado em
1880. Não seria este livro nem outros que publicaria mais tarde, como Mistérios
da Tijuca ou Girândola de amores, Memórias de um condenado ou A
condessa Vésper, Filomena Borges ou A mortalha de
Alzira, ainda todos vazados nos moldes de uma estética romântica, nem
os desenhos e nem tampouco os seus textos para o jornal que lhe vão dá projeção
no nome e na figura.
Depois que publica Uma lágrima de mulher,
Azevedo continua a viver sua modéstia vida de jovem intelectual provinciano. É
quando lhe vem a idéia já calcada nos fatos e aspectos sociais que o cerca de
escrever uma obra que em seu curso saltasse a vida e os costumes dos maranhenses.
Esse romance é O mulato, publicado em 1881. Ele é que apresenta os
primeiros traços de uma estética do romance naturalista aqui no Brasil,
estética que já era tendência comum nos romances produzidos na Europa, desde
que Émile Zola publicara seu O romance experimental, por volta de 1850.
É
esse romance, O mulato, o que vai projetar o seu nome por todo país, ao
mesmo tempo que, incompatibilizando-o com o modus vivendi maranhense,
forçando-o a deixar São Luís, novamente pelo Rio de Janeiro, onde tudo acontecia
por essa época. A fama de excelente romancista que o acompanha abre-lhes as
portas dos jornais, onde passa a colaborar intensamente. São anos e anos de
atividades ininterruptas, e da qual ele se queixa continuamente, dizendo-se um
sacrificado, um escravo das letras.
Nesse trabalho, porém, foi onde construiu
sua obra de romancista. Dentre as já citadas, Aluísio Azevedo ainda viria a
publicar Casa de pensão, em 1884 e sua obra-prima O cortiço, em 1890,
apresentada pela crítica como o melhor e mais bem acabado romance do
Naturalismo na literatura brasileira. O cortiço é a prova material de
um escritor que encontra seu melhor meio de expressão quando narra aspectos da
vida coletiva. Suas personagens, por isso mesmo, são muito mais o cortiço que
seus moradores, a cidade maranhense São Luís que o mulato Raimundo, a casa de
pensão muito mais que Amâncio.
Com o tempo o escritor conseguiu libertar-se
da vida de escritor, que para ele era um jugo. Torna-se através de concurso
público cônsul. Serviu primeiro em Vigo, depois em Nápoles, em seguida no Japão
e, por fim, em Buenos Aires, onde veio falecer em 21 de janeiro de 1919.
No interregno de dezoito anos que foi o período que se dedicou a vida
pública, Aluísio Azevedo nunca mais escreveria nenhum romance. Virara as costas
para a literatura e não apreciava muito que lhe roubassem as recordações da
carreira vitoriosa de romancista.
Comentários