O suicídio de Yukio Mishima
Por Xavier Velasco Violentamente vivo: ainda depois de morto – seu cadáver decapitado e as câmeras sobre como abutres – assim costumava dizer Yukio Mishima. “A maioria dos escritores”, confessou a algum editor, “são apenas normais que se comportam como perturbados, e eu, que me comporto como uma pessoa normal, estou doente da alma”. Raras vezes passou dos 49 quilos. Foi, desde pequeno, motivo de chacota entre os seus: débil, torpe, covarde, pequeno, complexado. E certamente nunca, nem antes nem depois, ameaçou sequer ser semelhante a uma pessoa normal. Mimado pela avó possessiva e doente, perseguido mais tarde por um pai decidido em combater sua devoção crescente pela escrita, o menino Kimitake Hiraoka chegou à adolescência – para, segundo seus detratores, não sair nunca mais daí – para esconder-se por trás do pseudônimo que lhe permitiria converter-se, rápido e impressionantemente, na estrela da literatura: Mishima, Yukio. Se Hitler foi o primeiro rock star da história, Mish