A bagagem do viajante, de José Saramago
Por Pedro Fernandes Os pais de José Saramago. Arquivo Fundação José Saramago "Estão os dois de pé, belos e jovens, de frente para o fotógrafo, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade que é talvez temor diante da câmara, no instante em que a objectiva vai fixar, de um e de outro, a imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o dia seguinte será implacavelmente outro dia... Minha mãe apoia o cotovelo direito numa alta coluna e segura na mão esquerda, caída ao longo do corpo, uma flor. Meu pai passa o braço por trás das costas de minha mãe e a sua mão calosa aparece sobre o ombro dela como uma asa. Ambos pisam acanhados um tapete de ramagens. A tela que serve de fundo postiço ao retrato mostra umas difusas e incongruentes arquitecturas neoclássicas". Com a leitura desse retrato ("Retrato de antepassados"), José Saramago abre seu livro de crônicas, único do gênero até o presente publicado no Brasil, A bagagem do viajante . É sabido que há out