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Mostrando postagens de dezembro, 2008

Então é natal

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Por Pedro Fernandes O dia não fora em nada agradável. Aliás, desde os últimos meses que antecedem o do fim do ano, nada me tem sido agradável. Mas, na noite de vinte e dois de dezembro, depois de jantar qualquer coisa na rua, voltava para casa, já mergulhado na parede escura da noite – que em certos minutos fazia-se tão clara, porque é de praxe todos os anos por esta época do ano iluminarem-se pedaços de ruas com luzes de todas as cores e tamanhos. Caminhava rente as paredes dos muros a pisar os primeiros lixos da noite. Nos pares de tempo que a rua entrava no breu ficava pensando em algum assalto – os assaltantes caem da escuridão quando menos se espera, rouba-nos algo de valor e com ele parte da nossa parede de sentimentalismos que vamos erguendo ao longo de nossa vida. Mas nesta noite não. Não estive a ser surpreendido por nenhuma dessas aves negras. Fui surpreendido já no fim da rua, do alto da murada, com duas meninas que aparentavam uns sete anos cada – não reconheço o ros

Harold Pinter

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Depois de Beckett, seu mestre, Harold Pinter foi o grande patrono da dramaturgia contemporânea. Foi o pai espiritual de David Mamet, de Neil LaBute, de toda a geração dos In-Yer-Face , os novos rebeldes britânicos, de Martin McDonagh a Conor McPherson ( O eclipse , filme pinteriano até a medula) passando pela suicida Sarah Kane, quem defendeu quando todo mundo falava de Blasted ; sua influência é indiscutível até entre alguns dos melhores atores desse período. Pinter foi uma figura difícil, dura. Sobreviveu aos ataques contra os judeus em bairro durante a infância e ao tribunal militar que o condenou por tê-lo como rebelde nos duríssimos anos cinquenta; sobreviveu ainda aos modismos, às perseguições, ao fascismo dos que a cada ano, sobretudo depois do seu comprometidíssimo discurso de recepção do Prêmio Nobel em 2005 quando passaram a acusá-lo de “esquerdista transloucado”. Durante a estreia de The birthday party (A festa de aniversário) sua primeira peça no Lyric Hammersmi

O Falcão Maltês, de John Huston

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Adaptação de romance policial de Dashiell Hammett inaugura gênero noir e concede a Bogart o status de ícone A adaptação do romance O Falcão Maltês , de Dashiell Hammett, traz Sam Spade (Humphrey Bogart) como um detetive solitário, implacável, preconceituoso e, no geral, vitorioso a cada novo combate. Não se trata de um corrupto. Ele tem seu próprio código de honra. Quanto aos criminosos, a violência e a ganância são tão exageradas que despertam comicidade. Assim, mesmo brutos e ambiciosos, não chegam a se opor a Spade. O público é levado a escolhê-lo como mocinho por razões mais sutis que por uma conduta exemplar, complexidade que fortalece o filme. O detetive tem suas manias, é homofóbico declarado e vive batendo em motivos razoáveis no impostor Joel Cairo (Peter Lorre). Spade é frio. Quando violento, cumpre sua missão rapidamente. O sócio é assassinado e ele não se abala. Respeita as formalidades, mantém as aparências e beija a viúva em segredo. O herói assim construído

Os livros, os discos e os filmes mais bacanas de 2008

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Por Pedro Fernandes   Acompanhando algumas publicações recentes no mercado editorial vejo que está muito em voga listinhas e listagens do que fazer, do que ler, do que ouvir, de onde ir, e, por aí vai. Parece que estivemos durante todo esse tempo da existência humana a juntar entulhos num armário e agora necessitamos de escolher os bons e pô-los aos olhos desavisados ou daqueles que se sentem meio perdidos dado o turbilhão de quinquilharias que se põe à venda nas vitrinas. Às vezes fazemos questão de viver a fuçar a internet, a livraria, a revistaria, as lojas de CDs em busca de alguma coisa inédita, que ninguém leu ou ouviu sequer falar sobre.   Pois bem. Nesta época do ano as listinhas e listagens são muito comuns. É um esbanja presente de um lado, um esbanja presente do outro. Não conseguir ficar imune e logo tratei de montar também a minha listinha. É breve, sem grandes ambições, mas que me marcaram muito o 2008. Não devia fazer isso porque parece confissão pública, mas aí está, c

Olympia, de Leni Riefenstahl

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Registro de jogos olímpicos durante o nazismo persegue ideais de beleza e perfeição num balé de corpos em movimento na tela A história que envolve o documentário Olympia , sobre a Olimpíada de 1936, em Munique, é, em grande parte, o relacionamento da jovem cineasta Leni Riefenstahl com o alto comando do regime nazista. Além deste filme, ela foi encarregada também da gravação de reuniões políticas do partido na Alemanha, o que resultou no impressionante O Triunfo da Vontade , sobre o Congresso do Partido Nazista, em Nuremberg (1934), uma das grandes peças cinematográficas de propagando política da história. Desde essa época até sua morte, em 2003, Riefenstahl foi acusada e bombardeada de perguntas sobre seu envolvimento com a cúpula de Hitler. Ela costumava responder que apenas fazia filmes para eles, apelando para conceitos discutíveis de objetividade e isenção na produção artística. Em Olympia , obra apresentada em duas partes ( Glória do Povo e Glória da Beleza ) não é

Cartas da Europa, de Jaime Hipólito

Cartas da Europa  é parte na continuidade da reedição da obra do escritor Jaime Hipólito Dantas. O livro é publicado pela editora Queima-Bucha, do também escritor Gustavo Luz.   Segundo ele, na apresentação da obra, as cartas agora apresentadas eram escritas em folhas sem pauta. Mesmo assim, "A escrita segue em linha reta e com uma excelente caligrafia. "  Gustavo Luz é sobrinho de Jaime Hipólito e é também o organizador e editor da coletânea que sai na sequência de Estórias Gerais .   Ele esclarece que a primeira carta da coletânea "foi escrita ainda dentro do avião, em guardanapos de papel" enquanto cumpria sua primeira travessia do Atlântico. "Durante um ano, Jaime escrevia quase todos os dias a parentes e amigos. Ansioso por notícias de Mossoró e do Brasil, queria saber de tudo, nos mínimos detalhes, desde notícias da política nacional ao desempenho de seus sobrinhos na escola. Ao longo dessas cartas, Jaime se mostra advogado, jornalista, escritor, filóso

Raul Bopp

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“Nascido em Pinhal, município de Santa Maria, criei-me em Tupanciretã, zona campeira. Meu espírito se formou dentro dos quadros rurais. Aquela paisagem dilatada, de horizontes livres, sem mistérios, terá certamente deixado em mim traços marcantes. Ela responde a uma relação espacial do homem com as distâncias. Delineou componentes sentimentais. Recolhi as primeiras emoções poéticas, de marca local, em sonetos de armação medíocre. Era um desejo natural de dizer coisas, sem preocupações literárias.”   O excerto é de um “Rascunho autobiográfico” que aparece em Vida e morte da Antropofagia , um livro de recortes em que o autor repassa um dos momentos cruciais do desenvolvimento da Semana de Arte Moderna realizada em São Paulo em 1922, evento que o teve como uma das personagens principais. O texto, igual ao restante da sua breve obra, padeceu de intervenções durante toda a vida; se por uma natureza ciosa do ofício ou por uma visível insegurança no trato com o literário, as contínuas interv

Zila Mamede, alma potiguar

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Por Pedro Fernandes Zila Mamede A trajetória de Zila Mamede e sua carreira de poeta são complementares, como bem já observou Tarcísio Gurgel: "De menina pobre e tímida de Currais Novos, até a profissional exemplar na área de biblioteconomia; da jornalista levemente arrogante, que publicava seus próprios poemas na coluna que assinava na 'Tribuna do Norte' até a poetisa consagrada em 'Exercício da palavra' verifica-se uma conjugação de fatores biográficos e literários que, intercomplementando-se, acabariam por transformá-la no nome hoje admirado por todos os que conhecem sua obra", assinala o estudioso.  Zila nasceu em Nova Palmeira na Paraíba, em 1928, mas muito cedo veio para o Rio Grande do Norte. Ela aparece no cenário das letras potiguares "em 1953, quando o neoparnasianismo de 45 espalhava prodigamente suas flores de retórica", com 'Rosa de Pedra'. Além deste livro de que o escritor Ney Leandro de Castro, em devida citação, se

António Lobo Antunes

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  Quando fui para África, ainda que contasse com pouca experiência cirúrgica, tinha de fazer amputações, tinha que fazer essas coisas tramadas que há a fazer em tempo de guerra . (António Lobo Antunes) António Lobo Antunes nasceu em 1942, em Lisboa, na zona de Benfica, onde cresceu. "Tive a sorte de ter uma infância muito boa, passada em Benfica que, na altura, era um microcosmos, das várias classes sociais, tudo aquilo misturado, larguinhos, pracinhas." É o mais velho de seis irmãos. De todos os irmãos, foi com João que estabeleceu uma relação mais forte: "... sobretudo com o João, porque vivíamos dois a dois, em cada quarto, e o João era o meu companheiro." No que concerne à sua relação com a família, António Lobo Antunes tem a dizer: "Talvez por na família haver uma grande contenção e uma grande austeridade, ainda hoje falo com o meu pai mais de literatura do que dos nossos sentimentos pessoais… Sou capaz de falar de emoções e sentimento

Visitas ao universo literário de Pepetela

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Pepetela. Foto: Beto Figueiroa A obra de Pepetela é, do seu país, certamente uma das obras melhor consolidada e mais significativa. A afirmativa tem a ver com a quantidade significativa de livros publicados e mais que isso, a qualidade inconteste referendada pela crítica literária em vários cantos da língua portuguesa. Depois de José Craveirinha, o escritor angolano foi o segundo a receber o prestigiado Prêmio Camões, em 1997. Nesse período, sua obra começa a ganhar novos contornos: permanece o interesse original pela história de Angola, mas agora se volta para discutir questões sobre uma sociedade pós-colonial maculada pela variedade de problemas decorrentes dos tempos que esteve sob jugo do colonizador.   Pepetela nasceu a 29 de outubro de 1941, em Benguela. É descendente de uma família de portugueses que migraram para África nos idos anos quando muitos buscaram nas colônias um meio de sustento. Fez os primeiros estudos ainda na cidade natal; depois, no ensino secundário foi para Lub