Desafios de uma educação especial

Por Pedro Fernandes




A partir da década de 1993 a deficiência passa a ser vista como sendo proveniente da relação existente entre a pessoa deficiente e seu entorno – o mundo no qual a pessoa está inserida. Consideremos isto como o primeiro tímido passo para uma real aceitação de que deficiências passam a existir a partir do momento em que o mundo que rodeia seus portadores não dispõe de condições para executar com facilidade todas as atividades de pessoas tidas como normais. Apesar de já ser enxergada como casos especiais, ou seja, que merecem uma maior atenção, é a partir desse reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU), nesse ano, que a visão crítica para com o assunto passa a ser focalizada por outra ótica. A forma nova é a de que a diversidade é tida como heterogeneidade social, tanto que, a partir daí a educação passou a ser vista como sendo única forma satisfatória para haver de fato uma interação social e não apenas isso, mas o que tanto se chama por inclusão social.

Catorze anos depois este reconhecimento foi transformado num ponto de importante discussão em todos os países, no Brasil não tem sido diferente. Várias têm sido as tentativas para que a sociedade reflita um pouco quanto às suas práticas discriminatórias ainda tão latentes e passe a enxergar a deficiência como sendo um ponto de partida à construção duma sociedade inclusiva. Sabendo que a raiz do problema preconceito centra-se numa base social, a presença de um deficiente numa sala de aula ainda é motivo de balbúrdia ou visto como algo anormal. Que se cite como é bastante comum ouvir comentários do tipo “apesar de deficiente ele é ótimo aluno”, o que corrobora para a assertiva de que ainda há embutido certa carga de preconceito, dando a entender que, a sociedade nunca e ainda não aprendeu realmente a enxergar a deficiência pelo seu avesso. Ainda se tem arraigado a visão medieval de jogar os deficientes em currais e taxá-los de mongóis.

Se ainda ocorre isso, pode-se dizer ou imaginar que a situação mudou? Diríamos que sim, mas acenderíamos certa luz de alerta: as mudanças não foram tão significativas assim. Até bem pouco tempo atrás não havia nenhuma espécie de política pública que tratasse abertamente do assunto e termos muito mais “pesados” que deficiente eram mais comuns do que se imagina e vê hoje. Faziam parte do cotidiano das pessoas com necessidades especiais.

O lento passo que demos foi o de proporcionar acesso aos portadores de necessidades especiais a escola; isso podemos ler como um passo lento e significativo à compreensão da deficiência enquanto elemento natural. Mas, paremos para imaginar que não se trata apenas de abrir vaga na escola, o governo tem a obrigação de oferecer condições possíveis para o total aprendizado destas pessoas, o que tem sido ponto decisivo da questão, porque inclusão não se faz jogando pessoas nos espaços comuns às “normais” sem a menor atenção. E disso sabemos bem: as escolas públicas, e muitas das particulares, sequer têm condições satisfatórias de oferecer qualidade aos tidos “normais”, que se dirá para os portadores de necessidades especiais. Sem falar, de que, a visão preconceituosa para com eles não se arraiga apenas nos espaços fora de casa ou da escola, é, inclusive, nesta última, a principal propagadora do preconceito, sob o discurso de que dá muito trabalho cuidar de pessoas especiais e que por isso não oferecem vaga nem estrutura compatível com eles.

A vigência de um corpo de leis que rezam em prol dos excepcionais, a abertura de vagas nas escolas públicas são tidas como medidas excluidoras, mas têm a finalidade de trazer o deficiente para as camadas mais populares da sociedade. Isso, no entanto, não significa dizer que se vive uma situação confortável quanto ao assunto, mas que há necessidades ainda de maiores conquistas. É necessário que a sociedade passe a enxergar a potencialidade que está no deficiente e aposte nele a capacidade de aprendizagem e produtividade possíveis de até superar um tido “normal”. Se enxergamos na educação como a única forma de romper estas barreiras por que não ela? Representa um desafio, mas necessário ao longo da trajetória que temos de percorrer ainda.

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