Livro de poemas e outras poesias de Jorge Fernandes
Por Veríssimo de Melo
Os homens só serão julgados verdadeiramente dentro da época e do meio em que viveram. O que hoje não tem mais sentido – com as mudanças que ocorreram nestes últimos quarenta anos – já foi no passado, a marca do espírito mais refinado e progressista, a elegância por excelência, o supra-sumo da inteligência e graças literárias. Certo que alguns valores são imutáveis, atravessando os anos e os séculos. Muitos outros, porém, se desgastam, empalidecem e morrem.
Os espíritos privilegiados são aqueles que, embora tendo sofrido as influências do tempo em que viveram, se sobrepuseram aos seus conterrâneos e avançaram pelos anos seguintes, conservando permanente atualidade em sua mensagem.
Jorge Fernandes – um dos precursores do movimento modernista no Brasil – há de ser julgado, também para ser compreendido e valorizado, dentro dos mesmos critérios.
Na sua época – décadas de vinte e trinta, principalmente –, Jorge surge na literatura norte-rio-grandense como um pioneiro, um desbravador de formas e conceitos estéticos, rebelado contra o status quo, ironizando poetas consagrados e profetizando o mundo novo que irrompia com o automóvel, os aviões, as máquinas, o dinamismo do século vinte.
Em muitos aspectos, ele refletia o meio, a mentalidade provinciana, no espanto diante da revolução que surgia, nos estereótipos e modismos que utilizava, no choque em face dos novos elementos culturais que penetravam na cidade pacata e “dorminhoquenta”. Todavia, enxergava longe. Sentia que estávamos numa época de transição, de mudanças profundas em nossa vida econômica, social e política. E por isso martelava os poetas parnasianos, desvinculados da nossa ecologia, pensando ainda à européia, enquanto muito mais belos e autênticos eram a natureza em torno, as máquinas, os sons novos, um mundo todo que chegava e eles não viam. Nesse sentido, Jorge é porejante de atualidade. Suas imagens, observações, os traços do ambiente nordestino que fixou, tudo ainda conserva um vigor de juventude. Por isso sua poesia é lida e apreciada ainda hoje pelos moços, como se estivesse escrevendo. Jorge Fernandes venceu o tempo.
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Natal da mocidade de Jorge Fernandes era, certamente, cidade tranqüila, quase parada, só se movimentando com as festas da Igreja e raros dias de agitação política nacional.
Era a época dos trovadores, das serenatas à porta das donzelas, das modinhas langorosas, dos violões “bêbados em dó menor”, como ele dizia. Das noites natalenses, ele próprio nos fornece depoimento, quando escreveu:
A luz elétrica do meu tempo
Vinha com a lua-cheia...
Era também a época dos cafés literários. O “Majestic”, por exemplo, foi o centro da boemia e atividades culturais. Em torno das mesas, discutiam-se os temas do momento, liam-se poemas e comentava-se a vida da cidade. E normalmente se formavam os grupos, as rodinhas literárias, com os “moços” de um lado, os “velhos” do outro. Exatamente como hoje.
O que há de notável em Jorge Fernandes é que foi ele o primeiro, no Rio Grande do Norte, a cantar no verso livre, sem rima, desprezando a métrica e fórmulas tradicionais. Numa época em que o soneto era forma de alto requinte literário, Jorge surgia escandalizando a cidade com versos sem rima, quase pé-quebrado, como se dizia, provocando protestos e iras por toda parte. Certo que já nesse tempo Mário de Andrade fazia o mesmo em São Paulo, iniciando o movimento que iria fecundar todo o país. Mas São Paulo já era grande metrópole, um dos centros mais cultos do Brasil de então. Escândalo maior era o Jorge em Natal, na década de vinte, escrevendo daquele jeito.
É preciso recuar no tempo para sentir o impacto que Jorge provocou na província. Impacto não somente nas formas novas de poetar, não apenas na referência a coisas consideradas prosaicas para a época, mas igualmente na maneira de grafar as palavras, utilizando termos populares, expressões vulgares, e até na pontuação exagerada, esbanjando reticências em quase todos os versos. Reticências que sugeriam coisas, provocavam suspense, ironizavam, ferretavam, perdoavam, contemporanizavam até.
O seu LIVRO DE POEMAS, publicado em 1927, com depoimento de Luiz da Câmara Cascudo, causou escândalo em Natal. Era, na verdade, simples caderno de oitenta e seis páginas, em brochura, mais largo que comprido (até nisso!), em papel de segunda categoria. Sabemos que Jorge não tinha condições para publicar, por conta própria, livro graficamente superior, dentro ou fora do Estado. Mas, há muita coisa intencional na forma humilde com que lançou o LIVRO DE POEMAS, que era muito mais caderno do que livro.
E por que tanta agressividade do poeta?
Simplesmente porque os tempos estavam mudando e ninguém queria ver. Porque a gasolina – que ele chamou “catinga nova” – estavam determinando enorme revolução na vida da província. E era preciso atualizar-se, frente à nova era que surgia.
Jorge se antecipava. E se transmudou em crítico feroz do momento. Contra tudo e contra todos. Sabia que os donos da época eram conservadores incuráveis.
Mas assim mesmo os enfrentou, correndo os riscos das conseqüências que poderia sofrer, como sofreu pela sua atitude quixotesca.
A reação de Jorge lhe custou caro. Poucos, raríssimos, eram aqueles que o aplaudiam e incentivavam, com Luis da Câmara Cascudo à frente. Por isso, Jorge viveu sempre circunscrito a pequeno grupo de amigos fiéis, teimosos, mas sem influências políticas. Para viver, depois que deixou a Fábrica de Cigarros Vigilantes, passou a negociar com cafés e bares na Rua Ulisses Caldas, onde apenas ganhava o suficiente para sustentar a família. Só mais tarde seria nomeado 4º escriturário do Tesouro do Estado, tudo quanto lhe rendeu a cidade, que ele cantou em versos imortais.
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Jorge é o poeta que assinala a transição das viagens do interior no lombo de animais para o caminhão, o automóvel Ford-de-bigode, roncando pelas serras e estradas cheias de pedregulhos. Vejam como há cobras nas viagens de Jorge pelo sertão! Ele era caixeiro-viajante e saía de lugarejo em lugarejo entregando mercadoria ansiosamente esperada. Foi pioneiro também nessa atividade, varando estradas precárias e perigosas. Vejam, nos seus versos, como os pneus estouram. E até o processo antigo de mudar o pneu, com a ferramenta colocada debaixo do assento do carro.
Para Jorge Fernandes, homem da cidade, o sertão foi um alumbramento. Sua nova profissão descortinava-lhe um novo mundo. Sensível à presença dos pássaros, que ele tanto amava – seus poemas estão cheios de azulões, curiós, graúnas, galos-de-campina, tetéus, acauãs, casacas-de-couro, riscando as páginas em todas as direções. Mais do que o homem do sertão, com o qual apenas tratava de negócios, o sertão de Jorge é feito de aves de todas as espécies. Achava mesmo que os pássaros que “ cantam contentes são poetas”. Os tristes, “engrujados de pé suspenso e bico enfiado nas penas” – esses não.
É preciso que se saiba que o amor de Jorge pelos pássaros era verdadeiro. Ele os entendia, conversava com eles, tinha intimidades.
Carlos Siqueira a propósito, contou-nos fato curioso. Num dos seus bares, Jorge tinha um galo-de-campina de estimação. Vivia numa gaiola no alto da porta que dava para o “reservado”, onde a turma boêmia bebericava. Quando Jorge se aproximava da gaiola, no seu passo arrastado, o galo-de-campina ficava pulando e cantando. Era a alegria de quem avista o amigo querido. Pois bem. Os boêmios resolveram imitar o passo de Jorge, para ver se o passarinho cantava. Iam-se arrastando, até bem perto da gaiola, mas o galo-de-campina nem se mexia.
Quando Jorge aparecia, o pássaro voltava a pular e cantar alegremente...
Conta ainda Carlos Siqueira que foi uma tristeza, um dia, no bar, quando os boêmios notaram que a gaiola tinha desaparecido com o galo-de-campina. Jorge o vendera! A necessidade o obrigara. E por isso foi quase um dia de luto no bar.
E quem mais sentiu, naturalmente, foi o poeta, que adorava o passarinho, seu bom amigo.
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Na poesia de Jorge Fernandes há uma preocupação típica da época: a síntese. O menor poema condensando o maior número de sugestões, de idéias. Influência que se manifestava igualmente no teatro, com as pequenas peças de um a dois atos, quase sketches. Inúmeros exemplos poderíamos apontar no LIVRO DE POEMAS ou nos poemas esparsos. Em “Pescadores”, Jorge se esmerou na síntese:
Quando há tormenta e a jangada vira
O homem forte matou a fome
Do irmão do mero que ele comeu...
Cascudo, em seu depoimento, chamou a atenção para este aspecto do poeta norte-rio-grandense.
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Há um poema, “Rede”, que é antecipação da poesia concretista, conforme notou em artigo Newton Navarro. Jorge queria fixar em versos rápidos todas as sugestões de uma rede armada num alpendre nordestino. Não se conteve e grafou a palavra “suspensa” em meio arco, como uma meia lua. Era o máximo em síntese e sugestão.
Vinte ou trinta anos mais tarde, jovens do movimento concretista iriam utilizar as mesmas sugestões formais, como se estivessem descobrindo um mundo. Naturalmente, eles levaram a invenção às últimas conseqüências. Mas não se pode contestar o pioneirismo de Jorge também nesse campo. E se ele sofreu influências dos líderes do movimento modernista, nos versos livres, já não se pode dizer o mesmo em relação à forma de grafar a palavra “suspensa” no poema “Rede”. Aqui foi mesmo invenção dele. Antes de 1927 – data da publicação do LIVRO DE POEMAS, não chegariam a Natal influências do concretismo que ainda não nascera.
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Jorge Fernandes foi nosso vizinho, durante muitos anos. Morava na Rua da Palha, hoje Vigário Bartolomeu, numa pequena casa de porta e janela. Raros os momentos em que passando por lá não parasse, para “bater papo”, perguntar coisas, contar as novidades literárias. Nos últimos anos de sua vida, Jorge andava doente e só saía de casa para a repartição, à tarde, apoiado numa bengala, arrastando uma perna.
Algumas vezes, conseguimos arrancar de Jorge alguns poemas inéditos, que publicamos em “A República”.
Queremos deixar o nosso depoimento da figura humana inesquecível de Jorge Fernandes. Ele era de uma humildade total. Nunca lhe notamos um pingo de vaidade em coisa nenhuma. Além de humilde, era de uma displicência invulgar.
Quando lhe perguntávamos sobre as cartas que recebera de Mário de Andrade e outros intelectuais do Sul, ele sorria e dizia que não tinha mais nada. O “dilúvio” que passara por dentro de sua casa, nos dias de chuva, em conseqüência das malditas goteiras, carregara tudo. E como não tinha condições para mandar consertar o telhado, achava graça na sua extrema pobreza. Mas nunca se queixava de ninguém em particular. Era tempo – dizia –, já estava muito velho e era isso mesmo.
Apenas uma vez, eles nos chamou para mostrar uma carta de Mário de Andrade, milagrosamente salva por sua esposa, D. Alice Fernandes, que a encontrava, por acaso, no meio de papéis velhos. É esta a carta de “grande Mário”, como ele chamava, depoimento dos mais importantes sobre a admiração que lhe votava o autor de Macunaíma. Está datada de 14 de julho de 1926. Ei-la:
“Jorge Fernandes
Por intermédio desse queridíssimo Luís da Câmara Cascudo faz já um mundo de tempo que recebi uns poemas de você, entre os quais dois dedicados a mim. Só agora e como sempre de carreira venho lhe dizer o muito obrigado efusivo e a sinceridade enorme com que me agradam os seus versos. Tem neles um certo ar brusco meio selvagem, meio ríspido e no entanto côa de tudo uma doçura e um carinho gostoso. Tudo isso eu tenho apreciado e me tem dado vontade de ler mais coisas suas. Você é original, é incontestável e é duma originalidade natural nada procurada. Isso é dom preciosíssimo, meu amigo. Fique certo que ando guardando os poemas de você como dos mais interessantes dentre os de nosso Brasil de hoje. Veja se me manda mais coisas. Estou com idéias de escrever chamando a atenção sobre vocês daí norte-rio-grandenses e você terá lugar importante nesse artigo. Vá mandando coisas que fizer pois, mesmo que não seja por causa disso, só por causa de nossa amizade que ano que vem será conversada voz contra voz, nós dois aí mesmo em Natal bonita. (Não pense que esse “bonita” é pra agradar, tenho umas fotografias de Natal aqui e gostei mesmo.) veja se me escreve um pouco e manda dizer se recebeu o livro que mandei pra você.
Conte coisas e retribua este abraço do (a) Mário de Andrade.”
Efetivamente, em 1927, Mário de Andrade esteve em Natal e foi procurá-lo no Café “Majestic”, onde se encontraram e confraternizaram numa roda de boêmios e intelectuais.
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Em 1949, Lenine Pinto – companheiro de jornal – entrevistou o poeta para o “Diário de Natal” e suplemento do “Diário de Pernambuco”. No subtítulo está uma frase do poeta que sintetiza todo o seu desencanto, quase no fim de sua existência:
– Eu avancei para muita coisa e terminei em nada.
Quatro anos depois, falecia em Natal. A entrevista, em mais de um tópico, reflete a tristeza do poeta diante do iniludível.
Lembramos ainda da luta de Lenine Pinto para conseguir uma fotografia de Jorge. O poeta não queria mudar a roupa, para posar. Com muita relutância, Lenine conseguiu o milagre da foto, que realmente seria a última. E ele previa, quando afirmava:
– Estou gostando disso, porque tenho a impressão que está é a última vez que me visto, antes de “ir embora”. Quero me ver no espelho, saber como estou. Breve as águas que levaram no “dilúvio” as minhas coisas descerão de novo pelas paredes e então é a minha vez que chegou. Mas queria ir enrolado num lençol branco, e isto daria até menos trabalho aos micróbios. Depois, é ridículo, você imagine um homem gordo, que com duas semanas o queixo está entrando pelo colarinho.
Embora reservado como sempre, Jorge falou sobre vários aspectos literários, conservando, contudo, a mesma humildade extrema e lá um ou outro rasgo de ironia contra os parnasianos.
Disse, por exemplo, que ainda não sabia escrever direito.
Sobre o fenômeno poético, começou declarando que certos poetas parnasianos andavam como “mariposas em torno dos órgãos sexuais, ou danados a meter os clássicos gregos e latinos, feito gênios, na poesia”. Acrescentou, numa das suas mais sérias e definitivas declarações que conhecemos:
– Ora, nós somos uns garimpeiros. Temos que remover a massa de terra com esforço e paciência, para no fim encontrarmos apenas um grãozinho, e este é que é nosso e é o que realmente valor. Não adianta que se queira toda a peneira de terra e que se faça como alguns dos nossos poetas, poesia orientada para os burgueses, nem se deve escrever nada para os burgueses.
A respeito do soneto, que ele tanto combatera na mocidade, declarou:
– Não tenho opinião, porque não quero me meter nos negócios de vocês.
Apenas, acho que o soneto é uma forma imortal de comunicação patética, pelo que tem de grande e belo, pelo ritmo, apesar de ser um cubículo de 14 grades, onde o poeta se limita em busca de liberdade. Só sou mesmo é contra a rima e isso já faz tempo...
Sobre as Academias de Letras, Jorge fez “blague” e relembrou o jogo infantil:
– Adoro-as, as da minha infância, onde se pula de um pé só e sem nenhum formalismo.
Impressionante a resposta sobre o seu maior sonho literário. Parece ter dito, de uma forma toda sua, aquilo que os poetas sempre procuram dizer, inutilmente.
É aquele momento mais alto, nunca atingido, em que o poeta se sentira plenamente realizado. Por isso declarou a respeito do seu maior sonho literário:
– Ainda está comigo. É compor uma canção, mas uma coisa diferente dessas que andam rolando por aí. Quero uma canção tremenda, como as espanholas.
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Alguns dados biobibliográficos são fundamentais para o conhecimento do poeta.
Jorge Fernandes de Oliveira nasceu a 22 de agosto de 1887, em Natal, sendo seus pais Dr. Manoel Fernandes de Oliveira e D. Francisca Fagundes Fernandes de Oliveira. O casal teve dez filhos, dos quais Jorge foi o sétimo, nesta ordem: Ovídio, Elisa, Maria, Raul, Sebastião, Roque, Jorge, Manoel, Hugo e José.
O pai, professor público, desenhista, cultivava seu latim e o idioma português. D. Francisca, dona-de-casa exemplar, gostava de ler e possuía mesmo as obras completas de Gonçalves Dias, Manuel de Macedo e José de Alencar.
Dos irmãos de Jorge, o que mais se destacou pela cultura e inteligência foi Sebastião Fernandes, bacharel, juiz desembargador, figura nobre e elegante, “o último fidalgo”, no dizer de Câmara Cascudo.
Quem ensinou as primeiras letras a Jorge Fernandes foi a sua bondosa mãe. Mas o poeta, já na infância, revoltado contra tudo o que tinha cheiro de coisa oficial, abandonava a carta de ABC e ia ler palavras nos livros de Macedo e Alencar – confessou-nos.
Estudou dois anos no Ateneu Norte-Rio-Grandense. Aluno vadio e arribador de aulas, o pai findou arranjando-lhe emprego no comércio, quando abandonou os estudos. Entrou para a “Fábrica Vigilante”, trabalhando aí cerca de vinte e cinco anos. Saiu de lá como entrou, com as mãos abanando, em 1930, pobre como sempre.
Todavia, reunindo economias, começou a negociar com cafés e bares na Rua Ulisses Caldas. Foi sócio de Firmo Guerra no Café “Majestic” e tinha outro estabelecimento defronte à Prefeitura. De ambos – perdoe-nos sua memória –, era um dos maiores consumidores, com a turma dos boêmios...
Casou-se duas vezes. A primeira, em janeiro de 1910, com D. Maria Fagundes Fernandes de Oliveira, falecida em 12 de outubro de 1916. Do primeiro matrimônio teve quatro filhos: Alba, Sara, Rui e Ilka. O segundo casamento foi com D. Alice Fernandes de Oliveira, nascendo deste consórcio três filhos, dois dos quais morreram. Sobrevive Alice.
O poeta Jorge Fernandes faleceu no dia 17 de julho de 1953, em Natal, sepultando-se no Cemitério do Alecrim.
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A primeira colaboração literária de Jorge Fernandes apareceu em “O Potiguar”, revista da Oficina Literária Norte-Rio-Grandense, onde também escreviam Ferreira Itajubá, Gotardo Neto, Angíone Costa, Francisco Ivo Filho e João Estevão.
Escreveu depois para inúmeros jornais e revistas da província, como “O Tempo” – jornal de Armando Seabra – “A Rua”, “Pax” e no terrível jornal humorístico “Arurau”. Nesse tempo, em 1909, publicou seu livro de estréia, em colaboração com Ivo Filho. A parte de Jorge era uma coletânea de contos humorísticos. A de Ivo Filho, “Loucuras”, versos.
Em 1914, Jorge era apaixonado pelo teatro, convivendo com artistas, que nos visitavam, escrevendo revistas e peças que marcaram época na cidade. Escreveu e encenou “Anti-Cristo”, em colaboração com Virgílio Trindade; “Céu Aberto”, em colaboração com Virgílio Trindade e Ezequiel Wanderley, musicada pelo violinista paraense Armando Lameira; “Já Teve” (revista); “O Brabo” (peça cômica); e “Ave Maria”, peça em um ato. Tinha a encenar “O Aniversário”. Sua peça de maior sucesso foi “Pelas Grades”, extraída de um dos seus contos. Tem sido encenada várias vezes em Natal e noutras cidades, sendo adaptada para o rádio. Jorge nos dizia que gostava da peça e achava que tinha sido outra pessoa que atuara nele, para escrevê-la. Por esse tempo, lia muito Gorki e Dostoievsky. Não foi sem razão que notaram em “Pelas Grades” influências de autores russos. Para atender pedido de artistas, escreveu ainda duas peças que foram encenadas em Natal, com sucesso: “De Joelhos” e “Desesperada”, tragicomédias, em um ato.
Com o advento do Movimento Modernista, em São Paulo, começou então a mandar seus versos para revistas paulistanas como “Antropofagia”, “Terra Roxa” e outras.
Só depois de 1927, com a publicação do LIVRO DE POEMAS, é que Jorge passa a escrever para “A República” e outros jornais consagrados da terra. Nos últimos anos, publicou pouca coisa. Escreveu mais para entender pedidos de amigos do que pelo prazer de aparecer.
* Livro de poemas e outras poesias de Jorge Fernandes foi editado pela Fundação José Augusto. O texto aqui reproduzido aparece na 2a. edição do livro (1970) organizada pelo próprio Veríssimo de Melo.
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