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Mostrando postagens de junho, 2008

PCN’s e ensino de Leitura

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Por Pedro Fernandes Diante de tantas discussões que perpassam acerca do ensino de Língua Portuguesa uma delas é o tocante ao ensino de leitura. O objeto desse artigo é estabelecer algumas concepções e encaminhamentos em torno dessa questão. Sobre a leitura, concordo com o pensamento teórico de Kato, uma das estudiosas da questão quando a autora aponta duas grandes posições e as relaciona com dois tipos básicos de processamento de informação: um deles o processamento “bottom up” ou ascendente, centrado na visão estruturalista da linguagem que entende o texto como sendo único portador de sentidos, de modo que o leitor não é concebido como sujeito ativo, cabendo a ele apenas a função de descobridor do significado do texto. Para essa concepção o sentido estaria preso às palavras e às frases, numa dependência direta da forma, tendo em vista que a concepção estruturalista vê a leitura como um processo instantâneo de decodificação de letras e sons e a associação destes com o significado,

No Pantanal com J. G. Rosa

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Por Manoel de Barros Andamos para ver a roça de mandioca. Tatu estraga muito as roças por aqui. Há muito tatu, Manoel?  Eles fazem buraco por baixo do pau-a-pique, varam pra dentro da roça, revolvem tudo e comem as raízes. Remédio contra tatu é formicida. Fura-se um ovo, bota formicida dentro e esquece ele largado no solo da roça. Rolinha passa por cima e nem liga. Mas o tatu espuga, vem e bebe o ovo. Sente a fisgada da morte num átimo e sai de cabeça baixa, de trote para o cerrado, pensando na morte... Homem é igual, quando descobre sua precariedade, abaixa a cabeça. Já sabe que carrega sua morte dentro, seu formicida. Essa é nossa condição  - Rosa me disse. Falou: eu escondo de mim a morte, Manoel . Disfarço ela. Lembra o livro do nosso Alvaro Moreira? A vida é de cabeça baixa? Deveria de não ser - ele disse.  Chegamos perto da metafísica. E voltamos. Havia araras. Havia o caramujo perto de uma árvore. Ele disse:  Habemos lesma, Manoel. Eu disse: caramujo é que ajuda árvore cre

A angústia das inadaptações

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Por Carlos Adriano Cena de A hora e vez de Augusto Matraga . O filme de Roberto Santos foi vencedor do Festival de Brasília em 1966. Se viver já o é, filmar Guimarães Rosa também é muito perigoso. No meio do redemoinho de imagens e sons, reside o diabo das adaptações literárias que buscam verter em cinema as complexas veredas do sertão de palavras de Rosa(s). Pensando o ofício do artista, escreveu o autor mineiro: "o incontentamento é o seu clima". Parece ser a mesma condição e sina do árido exercício da transposição, acidentada topologia de deslocamento que atravessa livro e filme, cartografia-enigma. Nonada: ponto de indagação e inflexão para quem decidir ousar pela aventura, âncora de angústia das inadaptações. Ambiciosa ou modesta, seja a tarefa, sempre resta o desafio, incômodo, e inquieto. "O poeta não cita: canta", reza Guimarães Rosa. O mais costumeiro entrave na travessia é a irredutibilidade da linguagem ("Quando escrevo, repito

Desenredos em Guimarães Rosa

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Por Cleusa Rios P. Passos “ A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. ” ( Grande Sertão: Veredas ) Dentre os processos compositivos de João Guimarães Rosa, destaca-se o modo lúdico e laborioso de  “ contar desmanchando ” , despertando no leitor ressonâncias sutis de causos e estórias, já narrados ao longo de sua obra ou da tradição literária. Paralelamente, o ato de desenredar  se faz um de seus traços profícuos, ao lado da mistura  de temas, tempos, processos lingüísticos e formas literárias, já assinalada pela crítica. Título de renomado texto de Tutaméia , Terceiras Estórias  (1967), o desenredo  tanto ganha o papel interno de mudança das relações do casal-protagonista (Jó Joaquim e Livíria / Rivília / Irvília) quando opera a reelaboração de elementos bíblicos (Adão / Eva, Jó) e ficcionais ( Odisséia ). Reiteram-se aí a inserção de suas narrativas na estória e tradição literárias, bem como a presença de um trabalho determinado, em grande pa

Guimarães Rosa: o sertão está em toda parte

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Guimarães Rosa e uma das travessias que o levaria a compor Grande Sertão: Veredas “Eu passei dois anos num túnel, um subterrâneo, só escrevendo, só escrevendo eternamente. Foi uma experiência transpsíquica, eu me sentia um espírito sem corpo, desencarnado ― só lucidez e angústia. ” (fragmento de carta de Guimarães Rosa ao amigo Silveirinha) * “ Acordei último. Alteado só se podia nadar no sol. Aí, quase que não se passavam mais os bandos de pássaros. Mesmo perfiz: que o dia ia dever ser bonito, firme. Chegou o Cavalcânti, vindo do Cererê-Velho, com recado: nenhuma novidades. Para o Cererê-Velho recambiei aviso: nenhumas novidades minhas também. O que positivo era, e do que os meus vigiadores do rededor davam confirmação. Antes, mesmo, por mais, que eu quisesse ficar prevenido, o dia era de paz. ” ( Grande Sertão: Veredas ) O terceiro livro de Guimarães Rosa, uma narrativa épica que se estende por 760 páginas, focaliza numa nova dimensão o ambiente e a gente rud

João Guimarães Rosa, o feiticeiro das palavras

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Guimarães Rosa “― Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram e briga de homem não, Deus esteja. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente ― depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.” Este belíssimo fragmento de Grande Sertão: Veredas , o

Hilda Hilst

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Por Rosanne Bezerra de Araújo  Atraco-me comigo, disparo uma luta. Eu e meus alguéns, esses dois dos quais dizem que nada têm a ver com a realidade e é somente isto que tenho: eu e mais eu. H. Hilst Desejo de eternizar-se. Desejo de abdicar da vida social para se dedicar totalmente à literatura. Desejo de alcançar a verdade, o conhecimento, a compreensão da vida e da morte. Desejo de ser santa aos oito anos de idade, quando era interna no colégio de freiras. Desejo de escrever um livro a cada novo amor que surgia em sua vida. Desejo de traçar um roteiro para a sua obra, mesmo que o seu final dê no silêncio : "eu fui atingida na minha possibilidade de falar". Eram tantos os desejos dessa autora, leitora de Joyce, Beckett, Kafka, Nietzsche, Kierkegaard e Kazantzákis, só para citar alguns de seus autores preferidos. A literatura de Hilda de Hilst (1930-2004) traz como tema, entre outros, o sentido da existência humana. A autora escreveu poemas, contos, romances, crônic