Raduan Nassar
Raduan Nassar nasceu em Pindorama, cidade do interior
do Estado de São Paulo. Seus pais, João Nassar e Chafika Cassis, haviam
se casado em 1919 na aldeia de Ibel-Saki, no sul do Líbano e em 1920 imigraram
para o Brasil; a família junta-se a parentes que já estavam no país e começam a trabalhar no
ramo do comércio, no interior do Rio de Janeiro. Um ano depois, mudam-se
para a cidade de Itajobi, interior de São Paulo e mais tarde, em 1923, para Pindorama. Na cidade onde nasceu, o pai do escritor abriu uma venda que logo seria transformada numa loja de tecidos, a Casa Nassar.
Em 1943, Raduan inicia seus estudos no Grupo Escolar de
Pindorama. Expansivo e de ótima memória, o aluno é freqüentemente
chamado para recitar poemas nas datas comemorativas, mesmo com sua dificuldade
em pronunciar corretamente o r fraco. Segundo ele, neste ano tem
"uma das melhores alegrias da infância" de que se lembra, ao ganhar
um casal de galinhas-de-angola do pai.
Como é de costume nos interiores do Brasil, o fervor religioso toma conta do menino que, em 1946, torna-se coroinha na igreja de Pindorama, depois de dois anos do início de sua
fase de aproximação com a igreja; Raduan à missa todos os dias para comungar.
No ano seguinte inicia o curso ginasial na vizinha cidade de
Catanduva e começa a trabalhar com o pai; em 1949, com o intuito de facilitar a ida dos filhos à escola, a família Nassar muda-se para essa cidade, vizinha a Pindorama. É quando se dá o episódio recobrado em Lavoura arcaica: o menino Raduan perde uma coleção de pombas de estima durante a mudança.
Em 1950, durante uma aula na quarta série do ginásio, Raduan sofre
a primeira das sete convulsões que sofreria nos dois dias seguintes. O
diagnóstico alarmista e incorreto de um médico — que chegou a mandar isolar sua
casa — seus pais decidem levá-lo para São Paulo em um avião-ambulância. Lá é
tratado por um neurologista, tendo retornado da crise com amnésia parcial e
passa a ter um comportamento introvertido. Debilitado, não consegue concluir o
ano letivo.
No ano seguinte reinicia seus estudos, tendo como professora
de português sua irmã Rosa. Orientado por ela, começa a ler clássicos
brasileiros como parte do currículo escolar. Com sua assistência também, faz consideráveis
progressos no aprendizado da língua, em âmbito familiar.
Em 1952 inicia o curso científico em Catanduva, ao mesmo
tempo em que começa a criar peixes em um tanque que ele mesmo constrói no
quintal de casa.
Buscando sempre facilitar a vida escolar dos filhos, João
Nassar resolve transferir-se para São Paulo, em 1953. A família se instala no
bairro de Pinheiros, zona oeste da capital paulista, na Rua Teodoro Sampaio,
2.173. No mesmo local, João Nassar abre um armarinho, o Bazar 13, que anos
depois viria a se tornar uma empresa comercial de expressão naquela cidade. Raduan trabalha
ao lado do pai durante o dia e conclui o segundo ano do científico no curso
noturno do Instituto de Educação Fernão Dias Pais, situado também em Pinheiros.
No ano seguinte troca o científico pelo curso clássico, mais
voltado para a área de Ciências Humanas, e conclui o colegial na mesma escola.
Em 1955 ingressa ao mesmo tempo na Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco e no curso de Letras Clássicas da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). No segundo
semestre abandona o curso de Letras. No curso noturno de Direito, conhece
Hamilton Trevisan, procedente de Sorocaba (SP), e com aspirações literárias.
No segundo ano, Trevisan apresenta o escritor a Modesto
Carone, outro sorocabano, que acabara de ingressar na Faculdade de Direito.
Modesto também tinha projetos definidos no terreno da literatura. Como Raduan já
começasse a manifestar suas primeiras preocupações nesta área, as conversas
entre os três passam a ser dominadas por temas literários.
Em 1957 Raduan ingressa no curso de Filosofia da
USP. Era o sexto entre os irmãos a freqüentar a mesma faculdade. Na Faculdade
de Direito conhece José Carlos Abbate, um paulistano que acabaria se tornando
um de seus melhores interlocutores. Inseparável, o grupo de quatro amigos
começa a se encontrar com regularidade na Biblioteca Mário de Andrade e na
biblioteca da Faculdade de Direito, onde discute autores e obras e faz boa
parte de suas leituras. Também se tornam comuns as noitadas em salões de snooker e
bares do centro velho da cidade.
No ano de 1958 interrompe praticamente o curso de Filosofia
ao restringir sua freqüência a uma disciplina (Sociologia). No ano seguinte,
decidido a dedicar-se integralmente à literatura, abandona o curso de Direito
(estava no último ano) e atende só com trabalhos ao curso de Estética na
Faculdade de Filosofia.
Falece João Nassar, em 1960, após oito anos de enfermidade.
No ano seguinte o escritor desliga-se dos negócios da família. Escreve o conto
"Menina a caminho". Viaja para Matane, no Canadá francês, onde viviam
duas tias, irmãs de seu pai. De lá segue como imigrante para os Estados Unidos,
onde permanece por apenas dois meses.
De volta ao Brasil, em 1962, retoma o curso de Filosofia.
Reaproxima-se dos irmãos, com quem passa a ter ótimo diálogo, muito embora lhes
fale de seus projetos literários.
Concluído o curso de Filosofia, em 1963, no ano seguinte
viaja para Lüneburg, interior da Alemanha Ocidental, a fim de estudar alemão.
Através de cartas de amigos e de familiares, toma conhecimento do golpe militar
de 31 de março. Comunica ao Departamento de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP sua decisão de não assumir a assistência da
cadeira de Psicologia Educacional no campus de São José do Rio Preto
daquela instituição. Ao mesmo tempo, abandona o curso de alemão e decide voltar
para o Brasil. Antes disso vai ao Líbano e conhece a aldeia de seus pais.
Começa, em 1965, na Chácara Tapiti, em Cotia, São Paulo, a
se dedicar à criação de coelhos. Ernst Weber, que mais tarde se dedicaria, como
ele, ao jornalismo, era seu sócio. No ano seguinte Raduan passa a
presidir a Associação Brasileira de Criadores de Coelho, ocasião em que promove
uma concorrida exposição de coelhos e pássaros no Parque da Água Branca.
Continua, no entanto, a se encontrar com o grupo de amigos da Faculdade de
Direito, na casa de Hamilton Trevisan, onde discutem política e literatura.
Em mutação constante, encerra a criação de coelhos e funda,
com os irmãos, em 1967, o Jornal do Bairro, contando com a participação
ativa de José Carlos Abbate, que era o redator-chefe da publicação, e de Ernst
Weber, então iniciando sua carreira no jornalismo. Apesar de regional, o jornal
dedicava parte de seu espaço a textos referentes à política nacional e
internacional.
O escritor faz, em 1968, as primeiras anotações para o
futuro romance Lavoura arcaica. Dois anos depois escreve a primeira versão
da novela Um copo de cólera e os contos O ventre seco e Hoje
de madrugada.
Em 1971 morre sua mãe, Chafika, segundo ele "criadora
de mão cheia" de galinhas e perus. Dela lhe veio o gosto por criação de
animais. Apesar de não ter fé religiosa, participa em 1972 da leitura comentada
que a família faz do Novo Testamento. As reuniões semanais para este fim se
entendem ao longo de quase todo o ano. Ao mesmo tempo, ele retoma as leituras
do Velho Testamento e do Alcorão (esta iniciada em 1968). A preocupação com
temas religiosos irá mais tarde se refletir de modo acentuado em Lavoura
arcaica. Escreve Aí pelas três da tarde, que sai como matéria no Jornal
de Bairro e anos depois aparecerá republicado como conto em outros
veículos.
Em 1973 conhece a professora Heidrun Brückner, do
Departamento de Línguas Germânicas da USP, que viria a se tornar sua
companheira.
No ano seguinte, por discordar da mudança editorial no Jornal
de Bairro, deixa em abril a direção do semanário, que tirava 160 mil
exemplares por edição. Sem alternativa imediata, começa a escrever Lavoura
arcaica, trabalhando dez horas por dia, até concluí-lo, em outubro. Seu irmão
Raja, formado em direito e licenciado em filosofia, é o primeiro leitor dos
originais. À revelia de Raduan, Raja tira duas cópias do romance e decide
passá-las para amigos. Uma dessas cópias acaba chegando às mãos de Dante
Moreira Leite, ex-professor de Raduan na Faculdade de Filosofia, que
encaminha os originais à Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro.
Em 1975, com a ajuda financeira do autor, a José Olympio
publica Lavoura arcaica.
O livro ganha, em 1976, o prêmio Coelho Neto para romance,
da Academia Brasileira de Letras, cuja comissão julgadora tinha como relator o
crítico e ensaísta Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Recebe, ainda, o
prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (na categoria de Revelação de
Autor) e Menção Honrosa e também Revelação de Autor da Associação Paulista de
Críticos de Arte — APCA.
Em 1978 a Livraria Cultura Editoria, de São Paulo, publica Um
copo de cólera. Mais tarde, comemorando os 500 títulos da Companhia das Letras, é feita
uma edição não-comercial de Menina a caminho. Depois de publicar essas obras, Raduan deixa de escrever e passa a se dedicar apenas à atividade rural.
* Informações obtidas do site Releituras.
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