Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen
Com a alegria do musical, filme enfoca a
transição do cinema mudo para o falado
Um astro do cinema mudo deixa sua
namorada e aspirante a atriz em casa após uma noite feliz. Começa a chover. Ele
não liga; apenas começa a cantar "Singin’ in the Rain" e começa a dançar. Chuta a
enxurrada, gira agarrado ao poste, é advertido por um policial, sempre
sorrindo. Uma das cenas de dança mais lembradas e imitadas do cinema só poderia
está naquele que é considerado, de forma quase unânime, o maior musical de
todos os tempos. Cantando na Chuva é a história de como Hollywood
transitou do cinema mudo para o falado e as conseqüências técnicas e artísticas
que a mudança representou.
Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen)
formam a dupla de maior sucesso do seu tempo. A sorte deles começa a mudar com
o inesperado sucesso de O cantor de jazz, em 1927, (que, de fato é, o primeiro
filme sonoro). Obrigados a se adaptar às novas normas, eles tentam migrar para
a sonorização, mas esbarram na voz desafinada de Lina. Ao mesmo tempo, Don se
apaixona por Kathy (Debbie Reynolds).Filmado em um poderoso Technicolor, Cantando
na chuva surgiu da vontade da MGM de repetir o êxito de Sinfonia de
Paris, (1951), do ano anterior, que ganhara o Oscar de melhor filme. Por trás
do projeto, encontra-se produtor Arthur Freed, quase tão importante para a
história dos musicais quanto os atores, coreógrafos e compositores. Freed
convocou Stnley Donen para a direção. Gene Kelly (que na famosa cena da chuva
estava ardendo em febre) cuidou das coreografias e por elas ganhou crédito como
co-diretor.
As gravações não ocorreram em paz, muito por culpa do temperamento
de Kelly – “tirânico”, na opinião de O’Connor. Reynolds sofreu mais: com apenas
19 anos, era alvo fácil para o mau humor do astro, que a acusava de não saber
dançar. Depois de uma das brigas, a atriz foi encontrada por Fred Asteire
chorando num canto do estúdio, e ele, comovido, a ajudou a ensaiar seus
números. Felizmente, as dificuldades não influenciaram o resultado final da
obra, bem-humorada, contagiante, e com um repertorio adorável na trilha sonora
– embora apenas duas das músicas tenham sido compostas para o filme. E mesmo
que Cantando na Chuva não fosse tão bom, seria histórico pela transformação do
belo par de pernas de Cyd Charisse numa lenda que entrou para a história.
* Revista
Bravo!, 2007, p. 32
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