Políticos, políticos, políticos e (conscientização, votos e musiquinhas)

Por Pedro Fernandes



Políticos brasileiros só podem ser mortos com estacas, água benta ou exorcismo realizado pelo próprio papa. A teoria mais popular diz que são orcs de Sauron disfarçados, enquanto outros defendem a idéia de que na verdade são primos pobres do Drácula curtindo a aposentadoria em um país tropical.

Aliada a toda utilidade surgem futilidades. A epígrafe acima foi coletada de um site, o Desciclopédia, que é na verdade uma enciclopédia criada pelos usuários da rede mundial de computadores, apenas para divulgar bobagens, conspirações e mentiras (quer dizer, algumas não deixem de ter certo traço de verdade). A intenção de colocar uma epígrafe como esta em um artigo sobre política é plausível porque soa algo de seriedade no fundo de toda brincadeira; e tão pura, a verdade, que parte da boca do povo. No limiar de pensamentos como este duas conclusões perigosas se formam:

1. o povo brasileiro sente-se em crise com seus representantes. O controverso é o fato de ser desse tipo de eleitor o voto responsável pela eleição da dita classe de orcs ou parentes pobres do Drácula. A consciência do povo brasileiro, ao que me parece, encontra-se num sério processo de sucateamento, assim como os ideais, enterrados nas valas do último movimento quase insuflado pelas massas, as Diretas Já.

2. essa crise representa uma ameaça ao direito conquistado a sangue e suor pelo povo brasileiro. Há mesmo quem afirme que esta esquizofrenia que varre as camadas da nossa sociedade culmine mais tarde com uma elevada simpatia pelos anos de militarismo. E estes podem voltar a ocupar a cena política do Estado Brasileiro? Dificilmente. Julgo, desde já, tal hipótese falsa. E penso assim porque sou daqueles que prefere acreditar que o Brasil, ainda que cambaleante, segue numa democracia com forte tendências a se consolidar enquanto tal.

Mas, proveniente dessas duas breves conclusões, é interessante ressaltar que, algo poderia (pode ainda) ser feito. O voto apesar de ser uma conquista e nossa maior arma se configura ainda numa arma de mira voltada para nós mesmos. Ainda sequer passamos a entender seu sentido, seu real valor, e nem sei se vivo para alcançar esse valor pleno (se nos países que fazem isso há muito antes de nós a coisa ainda é muito parecida com aqui). Só sei que se faz urgente criar âmbitos de discussão, a fim de entender sua função e, claro, conhecer melhor nossa responsabilidade enquanto cidadão.

Não há necessidade nenhuma de retomar como foi sua conquista. Apesar de termos a memória curta, isso não é algo que se esquece assim na primeira curva do tempo. Mas, falta, sim, melhor compreensão sobre nossa história. É sabendo da conquista que se tem um primeiro passo para saber do valor do voto. E valorizá-lo não no sentido capital, da moeda, quando o sujeito vai lá e troca seu voto por dinheiro, prática descabida e ainda mais comum do sonha nossa vã Justiça Eleitoral.

Só poderemos virar a face da moeda acerca de nossos representantes quando da posse de um voto soubermos mirar no alvo certo, a partir do entendimento pleno de seu poder de fogo. Enquanto não, seremos sempre surpreendidos com escândalos; estaremos muito em breve, se não nos conscientizarmos, vivendo num país entregue ao Deus dará, abandonado como barco sem rumo, se é que já não nos encontramos. 

Ainda assim acredito. Pelo menos prefiro acreditar que o voto é nossa maior conquista e nossa maior arma contra os políticos. Pena que temos em nossas mãos uma arma que ainda não aprendemos a manuseá-la; talvez porque não nos foi entregue um manual de instruções. Ou será que que lutávamos sem saber em prol do que lutávamos? 

Algo é certo: não deixemos que essa luta caia no esquecimento. Não se brinca com o passado. Não se pode brincar de política mesmo que os nossos políticos brinquem. Por falar nisso, próximo ano teremos novamente eleições. Os eleitores mais atentos já devem ter percebido que as musiquinhas já começaram a pipocar nos meios de comunicação em massa. Já está na hora, portanto, de se ligar e não ficar só na musiquinha pra lá, na musiquinha pra cá, e depois, oh...



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