O encanto Lya Luft
Lya Luft. Foto: Leonardo Cendamo |
É possível que grande parte dos
leitores brasileiros tenha já cruzado com o nome de Lya Luft em alguma página
de jornal ou de revista. Há algum tempo seu nome junto com o de Paulo Coelho se
fizeram uma constante popular. Pode-se mesmo afirmar que são os dois
Best-Seller brasileiros, mesmo sendo nítidas as diferenças entre os dois
escritores. A popularidade dela é mais em casa e se deve muito provavelmente à
presença constante como cronista na revista semanal Veja ou ainda noutras
mídias impressas que vez ou outra solta uma frase, uma imagem ou vende um livro
seu, um produto, aliás, fácil de encontrar mesmo nas páginas de uma revista de
vendas. É engraçado como isso se passa com uns e com outros não pode.
A família de Lya Luft tem suas
raízes metidas no núcleo que sempre se disse mais europeu do Brasil. Veja bem,
a escritora nasceu em Santa Cruz do Sul, uma pequena cidade gaúcha de
colonização germânica sobre a qual se diz falar alemão até muitos anos depois
da sua fundação. Quer dizer, a autoafirmação descabida e má tem suas
justificativas. É então muito provável que nascida nesse meio tradicionalíssimo
seja possível perceber na escritora quase uma terrível dissidente. Sim,
porque escolheu fazer um caminho com suas próprias pernas, sem se ancorar no
sobrenome alemão ou no modelo ditado pelo núcleo familiar.
Lya Luft nasceu no dia 15 de
setembro de 1938. Conta-se que ainda na adolescência desenvolve, talvez pela
herança culta do pai, um interesse pela poesia alemã; lê Goethe, o autor de Fausto
e de As aprendizagens de Wilhem Meister ou Friedrich Schiller, peça-chave
do sturm und drang, base do romantismo, talvez o peso maior da cultura
alemã que se floresceu e desenvolveu-se em toda a parte do ocidente. Esses
primeiros contatos resultariam no trabalho que fará entre uma e outra escrita:
a tradução de Hermann Hesse, Thomas Mann, Robert Musil ou Günter Grass. Nesse ofício é
reconhecida sua tarefa de aproximar a obra de Virginia Woolf dos leitores
brasileiros de língua portuguesa. Muito do que ainda não conhecíamos da
escritora inglesa nos chegou pela primeira vez a partir das suas mãos: Noite e dia, As ondas, A viagem, Os anos, Entre os atos...
A formação de Lya Luft privilegiou
dois campos importantes da linguagem: os estudos da língua e os da literatura. Já
quando lecionava como professora de Linguística no ensino superior fez dois
mestrados, um na área de atuação e outro em Literatura Brasileira. Também é
desse mesmo período suas primeiras incursões pela literatura; com a poesia e a
crônica, esta sempre publicada no jornal Correio do povo. As investidas
na poesia coincidem com o casamento com Celso Pedro Luft, de quem herda o
sobrenome que valerá a vida inteira. Os dois se casam em 1959 e quatro anos
depois sai Canções de ninar seguido de Flauta doce em 1976. Aqui
estava constituída toda a prole do casal: os três filhos nascem entre 1965 e
1969.
Pouco depois do segundo livro de
poemas, Lya Luft escreve ao então diretor da Nova Fronteira remetendo em anexo
um conjunto de contos que Pedro Paulo Sena Madureira logo percebeu como válidos
para publicação. Esses textos saem com o título de Matéria do cotidiano,
em 1978. E desde então, a casa incentiva à nova escritora que invista
nos romances; dois anos depois sai As parceiras e no ano seguinte A asa
esquerda do anjo. A sequência inclui ainda Reunião de família (1982),
O quarto fechado (1984), livro publicado também nos Estados Unidos,
abrindo uma carreira que se revelará profícua desde então e Mulher no palco
(1984).
Em 1985, Lya Luft se separa de
Pedro e passa a viver com o também escritor Hélio Pellegrino, morto três anos
depois. A morte de Hélio, faz Lya voltar ao convívio de Pedro, casando-se outra
vez. Nesse meio tempo, a obra não parou de ser construída: em 1987 publica Exílio;
em 1989 o livro de poemas O lado fatal; em 1996, os ensaios de O rio
do meio, com o qual recebe o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de
Artes; em 1997, o livro de poemas Secreta mirada; em 1999, O ponto cego;
em 2000, Mar de dentro e Histórias do tempo; em 2003, Perdas e
ganhos; em 2008, o volume de contos e crônicas O silêncio dos amantes.
Nesse período, note, sua escrita encontra-se
bem diversificada: seja na prosa (romance, conto, crônica, ensaio), seja na
poesia. Neste gênero ainda escreve Pra não dizer adeus (2005); naquele, O
tigre na sombra (romance, 2012), com o qual recebeu o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, Múltipla
escolha (ensaio, 2010) e A riqueza do mundo (ensaio, 2011).
Lya Luft morreu a 30 de dezembro
de 2021 em Porto Alegre.
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