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Mostrando postagens de janeiro, 2008

A primeira vez que o Ulisses, de James Joyce, ganhou as telas

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Paul Cadmus. Jerry , 1931. Óleo sobre tela. Museu de Arte de Toledo / reprodução.   Hoje é comum encontrar registros das artes plásticas que possam incluir o valioso romance de James Joyce, em edições das mais variadas. Mas agora o ano era 1931. Ulisses , publicado pela Shakespeare & Co. nove anos antes, em Paris, continuava censurada em vários países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.   Nessa década imediatamente a prodigiosa anterior, Paul Cadmus e Jared French já se conheciam intimamente. Os amantes fizeram um périplo que resultou na concepção e feitura da tela Jerry , finalizada quando Cadmus chega a Europa em 1931. Esse trabalho é significativo no quadro criativo do artista estadunidense porque concentra a técnica e o estilo que o fará reconhecido. Ele próprio considera a pintura como seu primeiro trabalho da maturidade.   O que chama atenção, além do moço French no fulgor da sua beleza e a maneira como olha para fora do enquadramento da arte, é o registro na parte

Sobre a educação

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Por Pedro Fernandes As questões que preenchem os espaços discursivos acerca da educação no Brasil são tantas que chegamos mesmo admitir ser impossível contornar o quadro do decadentismo que se assiste de certos anos para cá. Uma, de todas as discussões, no entanto, se destaca: não sei se por deficiência nos próprios cursos de licenciatura, ou “falhas de percurso” obtidas ao correr dos quatro anos da faculdade, levanta-se no entorno do espaço escolar um movimento em prol de certa “facilitação” de fórmulas e/ou teorias sob o prisma de uma educação construtivista. Isso levando em consideração que o cenário pedagógico no Brasil vê-se “influenciado” pelas teorias de Piaget e Vigotski. O construtivismo, base teórica dos estudos desses dois teóricos, ao chegar ao Brasil parece carrear todo pensamento das instâncias superiores, formuladoras de leis e paradigmas para o docente, a uma aplicabilidade mais que urgente delas no espaço escolar. No entanto, a teoria não parece

Voltar a Dino Buzzati

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Por Luis Mateo Díez   Jorge Luis Borges, amante confesso e fascinado daquela que é unanimemente considerada a obra-prima de Dino Buzzati: O deserto dos tártaros , dizia que podemos conhecer os clássicos mas é mais difícil fazê-lo com os contemporâneos e, no entanto, há nomes que as gerações futuras não se resignarão a esquecer. Um deles é provavelmente, afirmava o escritor argentino, o de Dino Buzzati, cuja vasta obra, não raro alegórica, exala angústia e magia, a influência de Poe e do romance gótico como foi declarada por ele; outros falaram de Kafka, mas por que não aceitar, sem desmerecimento algum de Buzzati, como ilustres mestres?   O deserto dos tártaros é, por várias razões, uma obra singular, além de uma obra-prima e o limite do que se supõe o todo da obra do autor se relaciona com essa inquestionável mas também com a herança de todos os demais. Este não é um daqueles casos em que o romance sozinho fulgura à distância, quase como se o próprio autor tivesse saído do controle,

Um dedo de prosa sobre a pontuação insólita em José Saramago

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Por Pedro Fernandes José Saramago. Foto: Orlando Brito (detalhe/reprodução) Bom, já outra postei neste blog um texto sobre a polêmica que ainda ronda a obra  O Evangelho segundo Jesus Cristo , de José Saramago. Ao pesquisar na web  mais sobre esse escritor a quem me dedico e rabisco as minhas primeiras reflexões em torno da sua obra, encontrei dois artigos assim intitulados: o primeiro, "A insólita pontuação literária de José Saramago" e o segundo, " As intermitências da morte ou o novo romance de José Saramago" de onde destaco o item "A importância da ortografia na escrita do romance". Ambos os textos são do crítico João Ferreira. Utilizando do livre recurso do CTRL+C-CTRL+V, sempre respeitando e dando o devido e merecido crédito aos escritos, é bem verdade, arrastei-o para minha pasta onde acomodo os artigos que na rede pesco sobre o escritor, pasta esta genuinamente denominada de material para monografia, visto que, pretendo usar a obra do esc

Gustave Flaubert por Guy de Maupassant

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  Digo com muita freqüência sobre o prazer de ser um rato de biblioteca . É na biblioteca que sempre fazemos as descobertas que em nenhuma vitrine ou livraria alcançaremos fazer. Algumas, talvez. Foi numa biblioteca que descobri a obra de José Saramago, embora, nesse caso, pudesse ter sido também numa livraria. Mas, para outras raridades, como a que transcrevo logo a seguir, não.   O livro Gustave Flaubert , com textos de Guy de Maupassant sobre o autor de obras-primas como Madame Bovary e Bouvard e Pécuchet traduzidos por Betty Joyce e publicado pela editora Pontes é um bom exemplo. Os dois escritores estabeleceram um laço de amizade por oito anos que foi, além da convivência, um período formativo para o autor de “Bola de sebo”.   O texto copiado a seguir é o primeiro que Maupassant dedicou a Flaubert. É uma espécie de íntimo perfil publicado inicialmente no La République des Lettres , no dia 28 de outubro de 1876, assinado com o pseudônimo de Guy de Valmont. (Pedro Fernandes)   *

O encanto Lya Luft

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  Lya Luft. Foto: Leonardo Cendamo   É possível que grande parte dos leitores brasileiros tenha já cruzado com o nome de Lya Luft em alguma página de jornal ou de revista. Há algum tempo seu nome junto com o de Paulo Coelho se fizeram uma constante popular. Pode-se mesmo afirmar que são os dois Best-Seller brasileiros, mesmo sendo nítidas as diferenças entre os dois escritores. A popularidade dela é mais em casa e se deve muito provavelmente à presença constante como cronista na revista semanal Veja ou ainda noutras mídias impressas que vez ou outra solta uma frase, uma imagem ou vende um livro seu, um produto, aliás, fácil de encontrar mesmo nas páginas de uma revista de vendas. É engraçado como isso se passa com uns e com outros não pode.   A família de Lya Luft tem suas raízes metidas no núcleo que sempre se disse mais europeu do Brasil. Veja bem, a escritora nasceu em Santa Cruz do Sul, uma pequena cidade gaúcha de colonização germânica sobre a qual se diz falar alemão até muitos

Joaquim Manuel de Macedo

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Antonio Candido não exclui o nome de Joaquim Manuel de Macedo no cânone composto pelo seu fundamental e sempre citado Formação da literatura brasileira . Mas não poupa, naquela maneira elegante e sutil típicas do seu estilo, as críticas; é notória a escolha do estudioso pela literatura de José de Alencar entre as primeiras no rol da história do romance brasileiro. Não é o caso de julgar sua compreensão, mas sempre ficará a pergunta sobre quais atributos o autor de Iracema favorece uma posição acima do autor de A moreninha . Preserve-se as peculiaridades de cada escritor, mas um e outro se beneficiaram da força das narrativas de folhetim e construíram uma obra marcada pelas mesmas deficiências : “realidade, mas só nos dados iniciais; sonho, mas de rédea curta; incoerência, à vontade; verossimilhança, ocasional; linguagem familiar e espraiada”, para utilizar as mesmas expressões formadas pelo crítico brasileiro em relação à obra de Joaquim Manuel de Macedo. É possível que

Um conto de Objecto quase, de José Saramago

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José Saramago. 1989. Falamos aqui  de  Objecto quase , de José Saramago. E hoje gostaríamos de voltar ao livro para apresentar um dos contos mais interessantes do conjunto das seis peças que compõem esta publicação. Trata-se do conto "Cadeira".  O conto abre o livro e foi escrito a partir de uma notícia solta na época da ditadura de Salazar de uma queda sofrida pelo ditador; a narrativa então reimagina o acontecimento figurando em câmera lenta a queda deste homem execrável depois de se sentar numa cadeira já carcomida pelos carunchos. Dados atestam que Saramago iniciou a escrita do conto em setembro de 1976, depois de reunir suas crônicas publicadas no Diário de Notícias  no livro  Os apontamentos .  O livro de contos foi publicado em fevereiro de 1978 e é uma obra de transição, em que o escritor experimenta-se em formas literárias, de linguagem e de construção narrativa.  Sobre o livro, Saramago comentou certa vez: "Não me parece que o Objecto quase  seja u

Objecto quase, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Trata-se da única antologia de contos de José Saramago publicada em vida, mas o escritor português também escreveu outros textos do gênero, como O conto da ilha desconhecida , A maior flor do mundo (estes dois publicados individualmente no Brasil também pela Companhia das Letras em bela edição luxuosa) e  O ouvido ... (nunca publicado aqui, mas integrante de uma publicação coletiva em que tanto José Saramago como os outros escritores discorrem a partir da tapeçaria La Dame à La Licorne) e alguns dispersos, como o conto Natal , de data indefinida que descobri no ato de escrita de minha monografia de graduação compilado na edição 151-152 da Revista Colóquio / Letras . Haverá, certamente, outros, que a distância e / ou a curta informação permita seu silêncio. Em Objecto quase apresentam-se seis breves narrativas enfeixadas cada uma por apenas um substantivo - "Cadeira", "Embargo", "Refluxo", "Coisas", "Centau