salvação



Despido de minha alma,
Na calma da noite,
Anjo decaído,
Divaguei por terras alheias de meu pensamento vago.
Encontrei como minha cara espichada num Cristo
– esquema ilusório.

Uma lágrima virada em rio caudaloso.
Voz suave no silêncio do tempo,
Estou preso num leve desespero.
Enxergo-me atraído pelo inferno dantes.
Não quero mais dormir.

Olhei minha alma por vezes cortada no espelho,
Cheiro de morte no ar,
Estou prestes a pular no cansaço de meus olhos.
Desperdicei meu tempo preso em mim.

Preciso de palavras pra esse caso de emergência.
Pra cumprir um poema sem nexo.
Sem cor, sem amor, um poema suicida.
Preciso das sombras delas pra dilatar meu funeral.
Debaixo do tempo me esconderei,
Amarrado no desespero.

Nunca me vi alma vil presa – estranhei.
Cedo ou tarde tenho de me despedir de mim.
Voltar ao começo:
Anjo decaído preso no tempo
– pensamento vago.
Cara espichada em versos verde lodo
– Cristo bugre.
Alma cingida por fitas vermelhas
– o desespero, uma solidão nua.
Prestes a jogar-se num precipício
– a vida, um inferno por onde vaguei antes.
Por um poema não escrito
– lágrima, voz suave no silêncio do tempo.



* Poema publicado no Jornal Trabuco de jul. ago. 2008. Disponível em Garganta da Serpente.

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

Mortes de intelectual

16 + 2 romances de formação que devemos ler