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Sete poemas de James Wright em “Vamos reunir-nos junto ao rio” (1968)

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Por Pedro Belo Clara (Seleção e versões) O POEMA DE MINNEAPOLIS (Para John Logan)   1. Pergunto-me quantos velhos, no último inverno, Esfomeados, com medo do anonimato, deambularam Pela margem do Mississippi Açoitados pelo vento até cegarem, sonhando O suicídio no rio. A polícia remove os seus cadáveres ao romper do dia E entrega-os em qualquer parte. Onde? Como guarda a cidade listas dos pais Que não têm nome? Em Nicollet Island observo a água escura, Tão bela na sua quietude. Desejo aos meus irmãos boa sorte E um túmulo quente.   3. Raparigas negras e altas de Chicago Escutam canções leves. Elas sabem quando o seu suposto bem-feitor É um polícia à paisana. A palma da mão dum chui É uma barata pendurada nas presas chamuscadas Duma lâmpada eléctrica. A alma dos olhos dum chui É a eternidade duma manhã de domingo nos subúrbios De Juárez, México.   7. Quero ser levado Por um enorme pássaro branco, desconhecido da polícia, E voar bem alto por milhares de milhas e ser cuidadosamente e

Boletim Letras 360º #581

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Fernando Pessoa. Arquivo da Casa Fernando Pessoa (Reprodução) LANÇAMENTOS   Editora amplia a presença da obra de Fernando Pessoa e salda várias lacunas do mercado editorial brasileiro na publicação da obra do poeta português. Editam-se dois novos livros.   1. Diários e escritos autobiográficos . O poeta desdobrado em heterônimos, que pela voz de Álvaro de Campos afirmou que “fingir é conhecer-se”, faz difícil saber o que está por detrás de tantas máscaras e o que realmente pensava e sentia. Contudo, é possível distinguir entre o autor literário e o homem cotidiano, por mais que os dois se confundam. Dessa forma, estes diários, cartas, apontamentos e alguns poemas reunidos esboçam o melhor autorretrato possível de Fernando Pessoa. Mesmo aproximativo e incompleto, tem a virtude de ser feito com as suas próprias palavras, de maneira que esta obra reúne o que mais poderia se aproximar de uma “autobiografia”. Nos seus apontamentos pessoais, Pessoa escreve para si mesmo, mas assina por vez

O que é um crítico literário?

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Por Christopher Domínguez Michael   Ao contrário de outros ofícios, o de crítico literário exige uma permanente explicação do que é e como se exerce. Para o bem ou para o mal, o público leitor (ninguém mais me interessa) entende o que é um poeta ou a atividade de um romancista, enquanto a figura do crítico é elusiva e equívoca. É comum — como gosta de dizer o crítico peruano José Miguel Oviedo — que os críticos literários nos perguntem se, além de “criticar”, escrevemos; isto é, se também nos dedicamos à “verdadeira” literatura, seja a prosa ou a poesia.   É duvidoso que os críticos, embora usemos a mesma linguagem dos poetas ou dos romancistas, sejam escritores, uma vez que o lirismo ou a imaginação se confunde com a literatura, excluindo do corpo desta a prosa alheia à ficção; a maioria dos críticos literários, por sua vez, se expressa através do ensaio, que é a principal, embora não a única, forma de crítica moderna. O ensaio literário, aliás, inclui a dissertação sobre teias de ar

As cores de Haruki Murakami

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Por Guilherme de Paula Domingos Haruki Murakami. Foto: Alvaro Barrientos Haruki Murakami é um escritor japonês que atualmente mora nos Estados Unidos. Nascido em 1949, ele já ganhou mais de 15 prêmios literários e publicou mais de 25 livros, transitando entre gêneros como o romance, o conto e o ensaio. Até agora, a sua obra foi traduzida para 50 idiomas e várias de suas histórias possuem adaptação para o cinema, como o recente Drive My Car (Ryüsuke Hamaguchi, 2021), filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, baseado em um conto de mesmo título da sua autoria.   O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação é o décimo terceiro romance de Murakami e foi publicado no Japão em 2013. Os romances do autor são comumente descritos pelo uso do realismo mágico, mas esse em especial foge da característica porque exibe poucos dos traços usuais de seu estilo; seus romances geralmente mostram um vilão sem rosto, gatos que falam ou desaparecem, passagens secretas, mundos

2024: O ano em que G. H. virou um palimpsesto

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Por Renildo Rene Texto, interpretação e imagem. Clarice Lispector esteve sempre fugindo da mensagem óbvia. O que escreveu e o porquê escreveu se tornou embrião dos seus significados — significados estes que são procurados nas suas ficções, crônicas, entrevistas, adaptações teatrais e cinematográficas. Do seu emblemático romance de estreia Perto do coração selvagem (1943) que lhe rendeu comparações a Virginia Woolf à reconhecida novela A hora da estrela (1977) reacendendo um debate antigo sobre a distância intelectual do escritor e os ditos problemas sociais, a escritora colocou no signo da língua a possibilidade da palavra de ser entendida de diferentes formas, em todo momento que sua obra e sua figura eram/ são reutilizadas por outrem.   Para A paixão segundo G. H. , seu espetacular quinto romance, a incorporação desse mistério, em constante repetição nas últimas décadas, ocorre em frente aos nossos olhos. Publicado originalmente em 1964, o romance é a famosa causa da escultora ca