Palavra empenhada: Antonio Candido e sua “Ocupação”
Por Guilherme
Mazzafera
Antonio
Candido não carece de apresentações. Seus escritos, docência e vivência
humanista compõem o inalienável testamento que o maior dos críticos literários
brasileiros nos deixou. Encantado há pouco mais de um ano, seu legado respira
forte com matérias de graduação e pós-graduação dedicadas à sua obra (já são duas
esse ano na FFLCH-USP, cujo prédio foi batizado com seu nome, seguindo a vereda
aberta pelas aulas do também saudoso Professor Joaquim Alves de Aguiar);
seminários e eventos dentro e fora da universidade; a reedição do
imprescindível Na sala de aula (Ouro sobre Azul, 2017) e de sua tese de
doutorado em sociologia Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira
paulista e a transformação dos seus meios de vida (Edusp / Ouro sobre Azul,
2017); o lançamento do instigante Conversa cortada (Edusp / Ouro sobre Azul,
2018), que traz sua correspondência com o crítico uruguaio Ángel Rama; e, não
menos importante, a Ocupação Antonio Candido no Itaú Cultural da Avenida
Paulista. Voltaremos a ela.
Creio que
todos que leem Candido sentem, em alguma medida, uma proximidade afetiva pela
clareza da escrita e pelo calor da experiência que ela sedimenta. Tal sensação
se amplifica, estou certo, quando é possível privar de alguns breves instantes
de conversa com o homem. Nasci tarde, não pude acompanhar o respiro de suas
aulas, mas fui aluno de alguns de seus alunos mais tardios e de outros
professores da geração seguinte, alunos de seus alunos primeiros. Tive, no
entanto, a sorte de vê-lo e ouvi-lo por duas vezes, no já longínquo segundo semestre
de 2011. Nas duas falas, disponíveis no YouTube, além de uma esplêndida lucidez
de um leitor já nonagenário, percebia-se um fulcro emotivo na rememoração de
dois outros autores e amigos. Na primeira, realizada no Instituto de Estudos
Brasileiros, Candido falou de Sérgio Buarque de Holanda, o homem de duas
cidades; já na segunda, na FFLCH, em razão dos 75 anos do romance Angústia, falou de Graciliano Ramos, provavelmente seu prosador nacional favorito e objeto do
único livro de Candido dedicado exclusivamente a um autor, Ficção e confissão (1956).
Ao final da primeira, graças à generosa intervenção da Professora Sandra
Vasconcelos, que então me orientava em estágio junto ao Fundo João Guimarães
Rosa do IEB, pude trocar algumas palavras com o crítico e furtar-lhe um autógrafo
no então único volume que possuía, o pequeno Iniciação à literatura brasileira,
que li no colegial deslumbrado pela clareza e precisão tão diversas dos
livros-texto escolares. Em nosso breve colóquio, ao me identificar como pouso-alegrense,
ele relembrou seus tempos em Poços de Caldas, enumerou boa lista de poetas
sul-mineiros de que eu não fazia ideia e ainda contou um episódio particular,
em que sua esposa, Gilda, precisou de atendimento médico quando o casal se
encontrava em Pouso Alegre. Segundo Candido, eles foram tão bem e rapidamente
atendidos que a cidade efetivamente lhes agraciara naquela ocasião com sua
etimologia.
Preso em uma
rotina doméstica de final de dissertação, a morte de Candido em 12 de maio de
2017 coincidiu com a defesa de mestrado de um amigo querido, o que me fez ir à
USP naquele dia. Se o crítico não comparecia diretamente no objeto e no suporte
teórico ali avaliados, constava nos olhos e palavras dos presentes. O pai desse
amigo fora aluno de Candido e, professor titular da FFLCH já entrado em anos,
falara da dificuldade daqueles que sobrevivem ao seu tempo, cada vez mais isolados
em suas memórias, sobretudo em contexto tão ominoso como o que continua a se
desenhar no país. Falou-se ainda de uma aposta furtiva entre Candido e Boris
Schnaiderman para completarem o século juntos. Não o conseguiram, mas
irmanaram-se no encantamento, respeitando a diferença de pouco mais de um ano
que os separava. Além de uma excelente defesa, o que se viu naquele dia foi a
construção espontânea e sutil de um luto coletivo, um falar de Candido em que a
gentileza e a generosidade de seus textos se fez moeda de troca dos partícipes
daquela inusitada elegia. Adaptando de leve Rosa, ler é conviver.
A Ocupação
Antonio Candido, aberta ao público no ano do centenário do crítico, é um irrecusável
convite para retomar aquele falar e repensar seu legado. Ela se estrutura a
partir de um dos ensaios mais significativos e doutrinários de Candido: “O
direito à literatura”, fruto de uma palestra de 1988 em um curso organizado
pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e posteriormente
incorporado a Vários escritos em sua 3ª edição. Doutrinário, é preciso dizer,
no melhor sentido possível: o da expressão honesta de uma convicção pessoal que
se abre fraternalmente para o outro. Excertos do ensaio se encontram espalhados
pelas paredes como discreto acicate à percepção da literatura como direito
humano inalienável. Para Candido, uma sociedade incapaz de formar leitores de
Cervantes ou Machado de Assis impinge sobre o homem uma brutalização, uma
mutilação social, pois, como ele diz em um dos vídeos disponíveis no site da Ocupação,
“o direito a literatura deságua na justiça social”. A boa literatura deve ser
acessível a todos e toda tentativa de adequação de uma determinada literatura a
um público específico, como no caso da literatura proletária, resulta em
discriminação social disfarçada, “pecado de orgulho”. Creio ser justo dizer que
este ensaio concretiza como talvez nenhum outro a divisa crítica estampada na
introdução da monumental Formação da literatura brasileira: a ideia de que a
crítica viva é aquela que “empenha a personalidade do crítico e intervém na
sensibilidade do leitor”, construindo-se a partir de “uma impressão para chegar
a um juízo”. Trata-se de um verdadeiro penhor de palavra, que amalgama visões
literárias, políticas e jurídicas em um manifesto ético: “a literatura apode
ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as
situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a
servidão, a mutilação espiritual.”
Reconhecendo
a importância da fruição literária como algo partilhável pelo homem em formas
diversas (romance, poema, samba, moda de viola, história em quadrinhos etc.) a
partir da “criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura de todos os
seus níveis e modalidades”, os efeitos dessa fruição só se fazem sentir por
meio da construção do literário em objeto, pois o que “age como força
humanizadora é a própria literatura, ou seja, a capacidade de criar formas
pertinentes”. Por fim, para ficarmos apenas em um dos múltiplos veios que o
ensaio dinamiza, a experiência do literário permite uma vivência dialética com
os problemas que ele suscita, de modo ser indispensável a coexistência da
“literatura sancionada” pelos poderes com a “literatura proscrita” nascida do
confronto com o estado vigente das coisas. Ressoa aqui a verve democrática
inata à atuação política de Candido, por sua vez indissociável do métier crítico,
como se nota na pena do jovem de 24 anos que, em “Poesia ao Norte”, adverte
sobre os perigos dos quais a poesia ainda estreante de João Cabral de Melo Neto
poderia se ver presa em seu flerte com a ideia de “poesia pura”: “Toda pureza
implica um aspecto de desumanização. É o problema permanente da pureza
ressecando a vida.”
O passeio,
ainda que possa ser breve, é incrivelmente instrutivo. De cara, nos deparamos
com uma reprodução digital de parte de sua biblioteca, reduzida de 30 mil para
6 mil livros essenciais, em que se nota o amplo interesse pelos autores e
intelectuais brasileiros ao lado da admiração profunda por Marcel Proust, seu
escritor de eleição. Percebemos por seu boletim que Candido não era exatamente
um aluno modelo, mas nos espantamos com a precocidade do leitor que ao menos
desde os 12 anos de idade anotava os trechos favoritos dos livros que lia –
método aprendido com a mãe, leitora voraz. Outro ponto que deslumbra uma
geração como a minha, de transição entre a escrita manual e o exclusivismo das
teclas, é a proliferação de cadernos separados por assuntos, sua caligrafia
elegante sem floreios – legível acima de tudo –, a clara organização dos
assuntos, a constância do método. Há, nisso, uma lição: inscrever é gesto, ato
físico de leitura compreensiva.
Boa parte
dos livros do crítico estão disponíveis para consulta, assim como alguns
artigos digitalizados e materiais de acesso menos fácil. Sua máquina de
escrever entrona-se no meio do espaço, atrás de vidro e defronte uma mesa que
nos chama a conviver com seus livros e textos por alguns minutos. O visitante
pode dispender algum tempo assistindo aos vídeos disponíveis, entre os quais se
inclui a fala sobre Graciliano mencionada ou ler in loco vários de seus artigos
de jornal, não raro hachurados, grifados, anotados, seja para indicar gralhas
ou para pontuar arestas a serem polidas. Há breves seções temáticas, como a de
“resenhas de descoberta”, em que o jovem crítico já demonstra seu olhar atilado
para reconhecer o grande escritor nos livros de estreia, como no caso de
Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa, por exemplo. Há
uma seção dedicada aos estudos de cultura popular e caipira, como o caso do
cururu; há documentos importantes como o que estabelece as diretrizes para a
criação do Suplemento Literário do jornal Estado de S. Paulo assim como as
quatro edições da importante revista Argumento, coagida à extinção pela
ditadura militar. E, talvez minha
favorita, uma redoma que congrega cinco livros de grandes escritores
brasileiros enviados para Candido com dedicatórias. É impressionante como os
estilos de Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Lygia Fagundes Telles, Guimarães
Rosa e Graciliano Ramos se desvelam nesse gesto de diplomacia literária.
Vejamos os dois últimos.
O de
Guimarães Rosa, autografando Primeiras estórias: efusivo, vibrante, generoso, virgulado,
expansivo:
“A ANTONIO
CANDIDO – o maior ! maior, mesmo, que as palavras possíveis da gente, – esta
homenagem de admiração, grato apreço, viva simpatia, do Guimarães Rosa. Rio,
setembro, 62.”
O de
Graciliano Ramos, autografando nova edição de Caetés: seco, conciso, sempre
pronto a desvalorizar seus escritos (“não valem nada”) – forma outra de vaidade:
“Antonio
Candido: A culpa não é apenas minha: é também sua. Se não existisse aquele seu
rodapé, talvez não se reeditasse isto. Graciliano Ramos. Rio – 1947”
Um dos
documentos mais incríveis é o esboço do diagrama ou mapa dos personagens de Memórias
de um Sargento de Milícias, arcabouço de seu ensaio mais famoso, “Dialética da
malandragem”, publicado originalmente na Revista do IEB n. 8 (1970) e que
estabeleceu uma leitura quase definitiva do romance (ainda que retroalimentada
pelas instigantes contribuições de Roberto Schwarz e Edu Teruki Otsuka, por
exemplo) e que desponta como uma breve interpretação do Brasil em um momento
histórico específico em sua porosidade complexa entre os polos da ordem e da
desordem.
O percurso
pela Ocupação abre ainda duas outras veredas. A primeira é composta pelo
conjunto de vídeos disponíveis no site da instituição que contemplam falas do crítico, conversas com suas três filhas (as
historiadoras Laura de Mello e Souza, Marina de Mello e Souza e a editora Ana
Luisa Escorel, responsável pela publicação atual dos livros do pai), uma das
netas – a designer Laura Escorel, responsável pela organização do arquivo
recém-doado ao IEB conforme os desejos do avô –, o taxista e amigo Moacir
Teixeira, a doméstica Maria Azevedo Sena Silva e dois de seus ex-alunos, Celso
Lafer e José Miguel Wisnik, além de uma conversa descontraída entre os
escritores Luiz Ruffato e Antonio Prata, este último vizinho de Candido quando
criança. Em sua totalidade, os vídeos procurar ilustrar as amplas facetas de
atuação do crítico – pai, marido, avô, patrão, professor, crítico, cidadão,
homem político –, marcadas em seu conjunto pela seriedade de um caráter íntegro
e generoso, risonho e brincalhão em casa, mas com profunda aversão a tornar-se,
em público, “bode exultório”.
A segunda vereda é o souvenir
que o visitante não pode se esquecer de pegar: o livro da Ocupação, que além da
reprodução de fotos lá contempladas, traz a transcrição das “resenhas de
descoberta” sobre Perto do coração selvagem (Clarice) e Pedra do sono (João
Cabral), além de dois textos ainda em estado de desenvolvimento. O primeiro
deles, transcrito ao lado da reprodução do manuscrito, é o caderno “O Grupo
Social e Sua Manifestação no Plano Literário”, no qual, ainda em forma
embrionária e numa escrita um pouco esquemática, preparatória, despontam
algumas ideias mais tarde reelaboradas em obras fundamentais como Formação da
literatura brasileira (1959) e Literatura e sociedade (1965), em especial a
relação tensionada do escritor com o público. Neste âmbito, Candido percebe na
passagem da literatura oral para a erudita, por exemplo, a existência de um
“ajustamento entre manifestação literária e os objetivos diversificados dos
vários grupos”, chegando à fértil constatação de que “Desde que haja
propriamente literatura, deixa de haver... literatura e sociedade”. O crítico
nota ainda o caráter excepcional do literário em relação às outras formas de
arte, pois ao contrário da pintura e da escultura, em que o “elemento
artesanal, a matéria, o instrumento estabelecem uma comunhão necessária do
artista com o artífice, manobrando ambos no mundo material de elementos
necessários à obra”, a literatura goza de um grau maior de liberdade ao lidar com
a palavra, com a letra, que “é de todos”, transcendendo o artesanato, ou seja,
“o vínculo que o prende a grupos não artísticos”. Como fecho de um estudo
(retrospectivamente) rico de consequências, Candido parece indicar a
importância fundamental do e que acopla literatura e sociologia, conjunção
presente em sua formação e que lhe moldou o método literário: “a recusa de
optar entre sensibilidade e investigação” que, acrescida da limpidez de estilo,
compõe um gesto não apenas literário, mas também ético.
O segundo
texto, fac-símile de um datiloscrito, é o meu favorito. O romance foi uma das
preocupações centrais de Candido, matriz de boa parte de seus ensaios capitais
como no caso do quarteto que abre O discurso e a cidade (“Dialética da
malandragem”, “Degradação do espaço”, “O mundo-provérbio”, e “De cortiço a
cortiço”), a totalidade de Tese e antítese e Ficção e confissão, além de um
sugestivo estudo como “Timidez do romance”, de A educação pela noite, cujo
final desemboca na premissa fundamental de “O direito à literatura” (a
necessidade humana de efabulação) e do qual o texto aqui comentado parece ser importante
pródromo. Em “Nas origens da teoria do romance”, Candido empreende uma
investigação sobre as primeiras teorizações dessa forma literária, antes mesmo
dela ter se estabelecido como “sistema”, se pudermos remeter livremente a um de
seus conceitos mais famosos. De fato, os críticos que ele comenta são
anteriores até mesmo à publicação da primeira parte de Dom Quixote, tido por
muitos como o momento inaugural da forma que ganharia força “sistêmica”, no
entanto, na Inglaterra do século XVIII. A frase de abertura delineia todo um
percurso possível, do qual o texto que nos chega traz os primeiros passos – e
que talvez fosse interessante pensar em diálogo com o instigante “O século
sério” de Franco Moretti: “O problema historicamente mais grave para o romance
foi a aquisição de status na literatura séria, fato que só ocorreu no século
19”. Como exemplo, Candido relembra a dificuldade em encontrar uma boa
justificativa para laurear Walter Scott com o título de baronete, já que sua
fama advinha de romances não assinados: tornou-se, com aquele prêmio, poeta,
ainda que de versos de mocidade.
A escrita de
romances, obras de consumo e de divertimento fácil, era “atividade incompatível
com os costumes de um gentleman bem posto”. Além disso, a forma não cabia nas
preceptivas poéticas, pois lhe faltava o sangue azul da tradição. Se a maior
parte das observações de uma incipiente teoria do romance se concentrava nos
comentários dos próprios autores em seus prefácios, Candido localiza em Francesco
Robortello (1516-1567) um dos patriarcas dessa nascente teorização. Robortello ousa
indagar o seguinte: há poesia fora do verso? Nessa simples pergunta, nota
Candido, radica-se uma questão maior, “a ligação entre a matéria e o veículo,
ou seja, se o tipo de discurso institui o gênero” e, passo contíguo,
questiona-se sobre a importância da matéria inventada na determinação de tais
gêneros, já que, se aristotelicamente a imitação á a alma da poesia, os
romances se fariam seus equivalentes: “são literatura criadora independente do
veículo”.
Na
sequência, Candido se detém sobre a figura de Giraldi Cinthio (1504-1573) e sua
obra Discorsi intorno al comporre de i Romanzi (1554), importante ponto de
partida para outros estudiosos como Claude Fauchet (1744-1793), Pierre-Daniel
Huet (1630-1721) e, já no século XX, Max Ludwig Wolff. (1876-?) O estudo de
Cinthio centra-se no épico (ou poema-romance) de Ludovico Ariosto (1474-1533), Orlando
furioso (1516-1532), que coloca em questão a expressão em verso “fulgurante” da
matéria medieval, mas que difere das prerrogativas de Aristóteles sobre a epopeia
por sua carência de unidade. O enclave que se gera entre o aparecimento de um
gênero novo e sua ausência na preceptiva clássica, incapaz de prever seu
surgimento, questiona a confiabilidade desta bem como põe em discussão a
“dignidade e a natureza” desses gêneros imprevistos. Do estudo de Cinthio,
enumera Candido, resultam três pontos centrais: o caráter legítimo da matéria
moderna como veio ficcional; a superação do princípio restritivo de unidade; e
o esforço de readequação das normas às novas necessidades expressivas. A obra
de Ariosto, nesse sentido, é fundamental pela possibilidade que abre: “depois
dele o poeta ficou livre pra deixar de lado a Antiguidade e fazer epopeias
modernas”, como fará Camões. Mas talvez a grande volta do parafuso seja, de
fato, a observação geral de que, em Cinthio, como uma atualização da poética de
Aristóteles – composta a partir de exemplos vivos e posteriormente engessada em
receituário –, “As normas devem ser extraídas do exemplo criador dos bons
escritores, como os antigos fizeram.” Em certo sentido, conclui Candido,
trata-se de gesto a ser repetido amiúde pela teoria do romance, “que progride
na medida em que procura elaborar um cânon com base na reflexão sobre as
características de um tipo de romance, ou mesmo um autor determinado, aos quais
adere estritamente.”
Como
arremate perfeito de um texto que versa sobre a não aderência a regras
encanecidas, Candido indica que “Nas origens da teoria do romance” é publicado,
ainda sem pleno acabamento, como “manifestação de solidariedade” ao Professor
Angelo Ricci (1915-1966) da PUC-RS, cujos direitos de lecionar haviam sido
cassados pela ditadura militar pouco antes de sua morte.
Em toda sua
riqueza, o conjunto dos materiais da Ocupação é apenas uma pequena mostra do
que o acervo doado ao IEB, quando disponível ao público, poderá ofertar aos
consulentes. Até lá, falar de Candido, discutir suas ideias e compreender seu ethos
humanista, em um presente no qual o sequestro de direitos sociais se faz
enodoada prata da casa, é, acima de tudo, dever ético, jurídico e literário.
Ligações a esta post:
>>> Entrevista com Antonio Candido
>>> Antonio Candido fala sobre o direito à literatura
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