Marguerite Duras
Marguerite Duras nasceu em Gia Dinh, na Indochina (atualmente Vietnã), em 1914, onde passou a infância e a adolescência. A estadia na então colônia francesa será um marco na vida da obra literária de Duras. É ainda na adolescência que ela tem um caso com um homem chinês rico, personagem que retornaria mais tarde nos seus livros O amante e O Amante da China do Norte. Foi para a França aos 17 anos. Lá cursou Direito e Ciência Política no Sorbonne, formando-se em 1935. No correr da Segunda Guerra Mundial, Duras tomou parte na Resistência Francesa, filiando-se também no Partido Comunista.
Duras foi sempre polemista - no bom sentido do termo. Não gostava de balbúrdia, necessitava do silêncio seu para está bem consigo. Não gostava de conviver com aqueles que lhe dessem um retorno substancial à sua existência. Certa vez, quando convidada para um ciclo de palestras numa universidade chegou mesmo a declarar: “chateia-me conviver com jovens durante três semanas; a juventude é uma gracinha, mas é uniforme demais... o ser só começa a se diferenciar por volta dos vinte sete, vinte oito anos. Aborrece-me passar o dia todo com estudantes que vão fazer perguntas, não poder ficar sozinha. E depois eu não tenho nada para dizer-lhes”.
O sucesso da escritora se com O amante - livro que vem ao lume em 1984 e que lhe deu o Goncourt, o mais importante prêmio literário francês o qual ela já havia perdido em 1950 com seu romance Uma barragem contra o Pacífico. Dona de uma vasta obra composta em mais 40 anos de profissão, a qual compreende mais de 50 textos e 19 filmes. Isso mesmo, Duras foi ainda roteirista, e desta profissão, saiu Hiroshima meu amor, filme de Resnais, o mais conhecido de sua produção e que chegou a receber o prêmio pelo roteiro em Cannes. Toda sua produção artística costuma ser agrupada pela crítica em dois ciclos chamados de o ciclo da Indochina, este marcado de inspiração autobiográfica, e o ciclo da Índia, este uma transformação fantasmática. Estes dois ciclos se fundem na já citada obra O amante.
O amante é, segundo a professora Celina Moreira, numa primeira leitura, apenas uma autobiografia, mais ou menos bem escrita, mas, na verdade, todos os textos de Marguerite Duras têm um cunho autobiográfico. Para essa afirmativa, ela recorre às várias entrevistas concedidas pela escritora em que, sempre, com uma franqueza absoluta, recorda sua infância, sua adolescência e juventude, assim como revela certos detalhes de sua vida mais íntima. Além de que, em O amante são encontradas personagens e situações de um de seus primeiros romances,Uma barragem contra o Pacífico que muito se aproximam às pessoas envolvidas, direta ou indiretamente episodicamente com a escritora e que vão sendo “cobertas por disfarces, acentuando-se o processo que Marguerite Duras denomina de filtragem, o qual caracteriza para a autora a relação que se estabelece entre o que é vivido e sua produção textual.”
Assim, a crítica lê em O amante a personagem daquele seu amante chinês. Esta, contudo, já podia ser encontrada, com algumas de suas características, traços, em obras anteriores: é o M. Jo de Uma barragem contra o Pacífico, amante ridículo, tolerado porque rico, de Suzanne, a qual sai para dançar com ele, em companhia da mãe e do irmão, e só permite que a veja lavar-se, nua, ele não pode tocá-la - e a sensualidade do corpo, em contato com a água, já está aí presente –; é o japonês de Hiroshima meu amor cuja beleza a autora destaca – “sua sedução deve ser imediatamente percebida por todos, como a dos homens maduros ...” – afirma, insistindo para que não seja visto como um tipo exótico: “O espectador não deverá exclamar: ‘Como os Japoneses são belos!’, mas: “Como este homem é belo!”; é também Chauvin, o operário de Moderato Cantabile, fascinante interdito para uma rica burguesa - diz Celina Moreira.
Dos trabalhos para o cinema, destacáveis são ainda Nathalie Granger, de 1972, e Son Nom de Venise dans Calcuta Désert, de 1976. Já da obra literária os textos O homem sentado no corredor, de 1980, e A doença da morte, de 1983, reunidos recentemente numa luxuosa edição da Cosac Naify. Nestes dois textos o que chama a atenção do leitor é também seu caráter fortemente confessional e amoroso. Ambos textos são lidos pela crítica como um prenúncio do tempo de amores rápidos - líquidos, para usar um termo da filosofia pop de Bauman -, do pânico da intimidade e da velocidade. Essas duas narrativas chamam a atenção ainda o desencontro, a ausência e a falta que se dá o embate amoroso entre os pares anônimos. “A grande novidade no discurso amoroso de Duras se dá na invenção de um tipo de texto breve e intenso, no qual a narrativa já se inicia com a situação posta” - diz o texto de apresentação da obra.
Além de obras para o cinema e romances, Duras tem produções para o teatro e uma série de adaptações, o que faz da escritora uma artista densa, rica e multifacetada. Duras morreu em Paris, em março de 1996.
* Este texto foi escrito tomando por base o texto “O texto de Marguerite Duras”, de Celina Moreira de Melo (disponível aqui, em formato PDF) e com base no texto de apresentação da obra O homem sentado no corredor e A doença da morte, disponível no site da editora Cosac Naify.
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