Reedição para Novas cartas portuguesas
O escritor português Eduardo Pitta divulga no seu blog a publicação de uma nova edição para as Novas cartas portuguesas, livro escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa e que marcou época na cultura e na literatura de Portugal. Trata-se de uma publicação organizada por outro nome importante das letras portuguesas contemporânea, a poeta Ana Luísa Amaral para a casa editoral D. Quixote.
Em Maio de 1971, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa pegaram na tradução portuguesa, feita por Eugénio de Andrade, de Lettres Portugaises (1669), compilação de cinco cartas de amor endereçadas por Mariana Alcoforado a um oficial francês, com o intuito de "desmontar e re-montar" os limites da linguagem.
Partiam da compilação de Claude Barbin das cinco cartas atribuídas ora à freira de Beja, ora a Gabriel-Joseph de Guilleragues. Dezenas de traduções e reedições em várias línguas, desde 1669, eram motivo bastante. Novas Cartas Portuguesas publicou-se em Abril de 1972, sob chancela dos Estúdios Cor, editora dirigida por Natália Correia.
O livro aguentou três dias em livraria. A PIDE recolheu e destruiu todos os exemplares disponíveis. Marcelo Caetano mandou instaurar processo judicial às três autoras, que foram levadas a tribunal. Motivo? O "conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública" da obra. Interrogadas na polícia política, enxovalhadas em público, as três Marias foram traduzidas dos dois lados do Atlântico, tornando-se alvo da atenção da imprensa internacional: do New York Times ao Nouvel Observateur, ninguém se calou. Simone de Beauvoir, Stephen Spender, Marguerite Duras e Doris Lessing foram algumas das personalidades que protestaram com ênfase. De certo modo, foi a primeira causa feminista global.
Recentemente, chegou às livrarias a edição crítica da obra, organizada e anotada por Ana Luísa Amaral, poeta e professora da Faculdade de Letras do Porto. Parece-me pleonástico sublinhar a oportunidade desta edição, pautada por um nível de exigência exemplar. Recupera-se o prefácio que Maria de Lourdes Pintasilgo escreveu para a edição Moraes; corrigem-se imprecisões e erros factuais constantes de algumas reedições; e, sobretudo, enquadra-se o texto no seu período histórico. Cerca de cem páginas de notas intertextuais dão a medida do rigor hermenêutico. Imprescindível.
* Publicado inicialmente no Blog Da Literatura.
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